quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Popnejo

Assombrado, o Brasil fez a festa com a "polêmica" declaração de Sandy à revista Playboy. "É possível ter prazer anal". Estas cinco palavrinhas causaram o maior furdunço na imprensa e nas redes sociais. Distorcida ou não, esta frasezinha ajuda a cimentar a transformação de imagem que ela tenta construir há certo tempo.
Mas não quero falar de celebritices. Uso Sandy para representar um pouco a metamorfose que transformou a música sertaneja de manifestação quase folclórica ao produto mais bem acabado do pop brasileiro.

Sandy & Júnior surgiram nos anos 90, ainda crianças, com seus primeiros discos "caipiras-mirins". Filhos de Xororó, não foi surpresa que alcançassem o sucesso popular. A dupla de seu pai com seu tio (os imortais Chitãozinho & Xororó) foi responsável por ajudar a tirar o sertanejo da roça. Numa época em que esse tipo de música tratava essencialmente da vida no campo eles foram os primeiros a dar um lustro mais próximo da música pop, usando guitarras e banjos. Criaram uma nova estética para o sertanejo que décadas depois veio resultar no sucesso de um cara como Luan Santana, que parece mais um rockstar do que um sertanejo (será que rótulos tão fechados ainda são válidos?).

Todos acompanhamos,de perto ou de longe, a carreira de Sandy & Júnior, que se descolaram completamente do sertanejo. Entre a segunda metade dos 90 e a primeira dos 00 foram soberanos com o público adolescente brasileiro. Totalmente rompidos com o a música sertaneja.

Paralelamente, as duplas sertanejas desenvolviam as sugestões musicais e estéticas de Chitãozinho & Xororó. A febre desse gênero musical nos anos 90 com Zezé Di Camargo & Luciano catapultou o formato com letras românticas, solos afiados de guitarra e superproduções em parceria com a TV (quem não se lembra do programa Amigos, da Globo?). Nesta fase, o sertanejo já se concretizava em sua nova estética. E dá-lhe a melação romântica goela abaixo com Leandro & Leonardo, Chrystian e Ralf, Gian & Giovani e tantas outras. Vale destacar que a esta altura, o visual de muitas duplas já não tinha mais nada a ver com o estilo de vida do campo.

Na década de 2000 o sertanejo universitário consquista o jovem, toca em baladas e duplas como Victor & Leo, João Bosco & Vinícius, Fernando & Sorocaba e os cantores Luan Santana e Michel Teló dominam as paradas de sucesso. O que vemos são megaproduções nos shows, efeitos especiais no DVDs e uso de recursos de variados estilos musicais. Fica difícil ouvir e dizer de cara "é sertanejo".

Tudo por causa do fio de cabelo num paletó. Tem um fiozinho daquele mullet no sertanejo-pop de hoje.

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