segunda-feira, 25 de julho de 2011

Nasce uma lenda



Não dá pra deixar de se espantar com a morte precoce de Amy Winehouse aos 27 anos de idade. Embora seu comportamento destrutivo e trapalhão fosse motivo de piada, não cheguei a considerar que ela fosse morrer tão cedo.

A morte veio e caprichosamente deu a Amy um lustro que talvez os altos e baixos de uma longa carreira lhe negassem. Morta aos 27, ela entrou na galeria das lendas da música. Colocou seu nome entre referências clássicas que serão buscadas pelas próximas gerações. O poder que a morte tem de edificar a imagem de uma personalidade está agindo, tenho certeza.

Acredito nisso porque Amy tinha uma combinação explosiva e certeira: talento e imagem. Amy atraía os ouvidos e os olhos. Aguçava a curiosidade. Não foi uma celebridade fanfarrona mas sem valor artístico.

Musicalmente tinha um vozeirão único, rasgado, mas que sabia ser doce e sensual nos momentos certo. Suas letras falavam de conflitos de amor e drogas com uma ligação profunda com nossa época. Sua imagem no palco não passava despercebida. Tatuada, cabelo meio Alien, meio bolo de noiva. Roupas variando entre o sessentista extravagante e o biscate. Maquiagem inconfundível. Seios fartíssimos, decote generoso. Amy era um espetáculo até muda.

Fora dos palcos, sua personalidade forte e agressiva quando sob efeito de drogas rendeu tantos escândalos que fica difícil lembrar de todos aqui. Teve soco em fotógrafo, repórter, fã e muita gente mais. Teve destruição, vídeos com filhotes de ratos, vídeos fumando crack. Shows desastrados, vexames, esculhambação do público, cancelamento de turnês inteiras. Enfim, excessos. Sabe todas aquelas histórias que ouvimos sobre a era clássica do rock dos anos 70? Amy viveu tudo isso nos nossos dias, enquanto batíamos cartão na firma e assistíamos Insensato Coração.

Diferente de Michael Jackson, que considero vítima de um estilo de vida que sequer podemos imaginar, a morte de Amy traz um mórbido "selo de autenticidade" para sua obra (o que a aproxima de outro mártir do clube dos 27, Kurt Cobain). Sim, os conflitos e a bagunça ali eram reais. A angústia e o calor vinham de um fundo emocional genuíno. Nunca mais seus dois discos serão ouvidos como eram antes. Agora são pedaços de Amy que viverão eternamente.