sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Chaves é um mistério


Chaves é um mistério.
É um negócio dos anos 70, a imagem é escura, os efeitos sonoros são estranhos, é mexicano, subdesenvolvido. Os atores são velhos, feios. Tem homem de meia idade já barrigudo e velho vestido de criança. Se você olha bem de perto, parece quase um freak show.

Chaves é um mistério ainda mais perturbador porque está no ar há uns 30 anos e é até hoje uma das maiores audiências do SBT.

Mais estranho e doido é encontrar na rua a molecada com suas camisetas do seu Madruga e do Chapolin.

Chaves venceu. Atravessou o tempo e com piadas sobre sanduíches de presunto, churros e suco de tamarindo (que parece de limão) conquistou o coração da criançada.

A indústria do entretenimento infantil se desenvolveu, tendências de desenho animado surgiram e desapareceram. A internet chegou. Efeitos especiais com explosões pipocam em todos os canais, mas nenhum mostra como é a bola quadrada do Quico, que só existe na imaginação das crianças.

Quando eu era uma delas, foi em Chaves que vi algo mais próximo do Brasil entre as atrações para a minha idade. Era ali que via crianças brincando como brasileiras, por mais que fossem atores mexicanos batendo quase 40 anos em cena, num troço que foi gravado uns 20 anos antes. Me tocava com mais apelo do que muitas produções nacionais.

Quem assiste Chaves com o olhar adulto pode perceber a carga de melancolia, de um sentimento frio que é transformado em ternura. É a vida do menino pobre que não tem o que comer, nem quem olhe por ele. A tristeza estava embutida no olhar de Roberto Bolaños.

Ele foi embora como um dos muito poucos que conseguiram construir um sólido elo cultural por toda a América Latina. Conseguiu até pular o muro que nos separa dos hermanos e ganhou o coração do Brasil.

O segredo do sucesso? A chave do mistério? Estava no fundo daquele barril.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Sarney, o pior cabo eleitoral

A cena tem um peso simbólico tão amplo que é difícil dar a dimensão.

José Sarney, 80 e tantos anos, terno claro, peito coberto por adesivos de Dilma Rousseff, se aproxima da urna eletrônica para o sagrado momento do voto.

Estica o indicador, sobrevoa a tecla 1, ameaça digitar um 13. Hesita. Desce um pouco e não tem dúvida: 45 e confirma. Deixa a cabine de votação com aquele ar de velhinho de asilo, que não percebeu que guardou o controle remoto na geladeira.

A cena foi captada pela câmera de TV. Assim, meio de lado, como quem não quer nada, a lente pegou o ex-presidente no pulo.

O que dizer um cacique do tamanho de Sarney? Apoia fulano, mas vota em beltrano? Não dá para dizer nada, estava com a cueca na mão. Vem a confirmar sua carreira de falcatruas e desmandos.

E a câmera que gravou a cena? O voto não é secreto e inviolável, mesmo o de um canalha como José Sarney?.

Em seu último ano de vída pública, fica sendo essa a despedida de uma criatura política que como um corvo, uma lagartixa, uma ratazana, se alimentou nas sombras da história brasileira.


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Uma briga sem mocinhos


E as redes sociais se tornam rinhas de galo.

De um lado, petralhas, do outro tucanalhas. Ou assim um grupo enxerga o outro.

O que me cansa é a leviandade do discurso em ambos os lados.

Se o PT teve a compra de votos de parlamentares através do mensalão, o PSDB teve a obscura emenda da reeleição de Fernando Henrique; suposta compra de votos cuja investigação foi engavetada na época.

Se o PT loteou o funcionalismo público e transformou ministérios em feudos de partidos aliados, o PSDB já havia consolidado esta prática. Os tentáculos do PMDB andavam de mãos dados com o governo, tanto que Renan Calheiros foi ministro da Justiça de FHC.

O que quero dizer é que não há resposta fácil, nem estrada dos tijolos dourados nessa encruzilhada.

O país amadureceu institucionalmente até aqui graças às contribuições dos dois partidos. Não haveria bolsa família hoje sem a estabilização da moeda com o Plano Real. Talvez ter um celular hoje não fosse tão banal se a telefonia não tivesse sido privatizada.

Também não dá para negar que os condenados do mensalão foram investigados e julgados por agentes do próprio governo - com o maior simbolo do julgamento, Joaquim Barbosa, sido indicado por Lula.

Cabe a cada eleitor ponderar as conquistas de cada governo e, usando a razão, escolher quem lhe parece melhor no próximo 26 de outubro.


terça-feira, 16 de setembro de 2014

O barraco em Itaquá - na chácara dos Mamonas

Quadro com Dinho foi presente de fãs
Coloquei o pé na sala e senti um negócio esquisito. As paredes estavam cheias de fotos de quatro caras muito de bem com a vida. Discos de platina e diamante pendurados. Reconheci a pintura enorme de um Dinho vestido de Robin. Tinha visto na TV em alguma matéria de anos atrás. Sim, eu estava na casa dos Mamonas.

A matéria nem era minha, mas fiz questão de acompanhar a visita à chácara de Itaquaquecetuba que foi comprada por Dinho e até hoje pertence à sua família.Era ali que os caras descansavam nas folgas e é onde algumas relíquias daquela época estão guardadas. Você pode ler a excelente matéria que meu amigo Douglas Pires escreveu aqui.

O pai de Dinho, seu Hildebrando, impressiona pela semelhança física com o filho famoso. O mesmo queixo quadrado, olhos escuros e o mesmo corte no cabelo branco. Ao longo da conversa ele revelou outras semelhanças.

Seu Hildebrando mistura graça com a firmeza de um coração cicatrizado. “A gente não esquece. Parece que foi ontem. Agora, o que aconteceu com esse rapaz [a morte de Eduardo Campos] parece que volta tudo de novo o que aconteceu com gente”. Mas ao mesmo tempo já emenda uma piada atrás da outra.


Com seu Hildebrando, grande figura

Ele é sempre procurado para falar do filho que brilhou até apagar há 18 anos. Lembrar dos Mamonas é como mergulhar numa pororoca braba entre a alegria do que brincaram em vida e a desolação da tragédia. Não deve ser fácil nadar ali.

Nordestino esperto e muito divertido, seu Hildebrando lembra muito Dinho quando o filho falava sério. No famoso show no ginásio Thomeuzão, em Guarulhos, o vocalista fez um discurso raivoso sobre perseguir os sonhos e conquistar o que diziam ser impossível. O lugar parecia que ia entrar em erupção com tanta energia explosiva do rapaz, que seria velado naquela mesma quadra menos de três meses depois. [Veja o vídeo aqui]

A certa altura, fomos fazer imagens de itens do figurino da banda. Aí o bicho pegou. Estendida na cama, meio amarelada e fedida, estava a pantufa da fantasia de Pernalonga. Também estava o colete roxo e a capa amarela do He-Man, o vestido do Robocop Gay e uma camiseta branca dos Mamonas Assassinas autografada pelo Dinho. Coisa fina. Uma peruca do Xororó e uma grande cartola verde e amarela fechavam o baú de tesouros. “Muita coisa está lá em Guarulhos”, disse seu Hildebrando. Posamos para fotos para guardar de recordação.

Com a peruca do Xororó. Que momento
Eu queria um apartamento no Guarujá / Mas o melhor que eu consegui foi um barraco em Itaquá”. Esses eram os primeiros versos do disco. O barraco em Itaquá foi onde a banda passou sua única virada de ano como super astros.É estranho estar ali. Banal e ao mesmo tempo emocionante pisar na mesma quadra onde aqueles caras bateram uma bolinha, a piscina onde zoaram um monte ou imaginar eles com a família correndo e brincando pelo gramado.

A força dos Mamonas estava no fato dos caras serem de verdade. Poderiam ter sido o projeto de uma gravadora, uma arapuca, uma armação, mas não, os caras eram daquele jeito. Não representavam personagens. Eram só moleques.

Foi depois de um café com pipoca que nos despedimos. Seu Hildebrando já chamava Douglas de Douglinhas e eu já queria chamá-lo para tomar uma cerveja. “Cana na roça dá cachaça e cachaça na cidade dá cana!”, comentou. Ê, seu Hildebrando...

sábado, 28 de junho de 2014

A Copa por um fio

Não sei bem de onde veio. Nem qual o fundamento. Mas senti que teriam pênaltis nestas oitavas de final.

Brasil e Chile no Mineirão. Já disse que o Chile é meu segundo time na Copa. A simpatia pelo país já vem de antes, mas ficou mais forte com resgate dos mineiros uns anos atrás. O grito de chi-chi-chi, le-le-le ficou na minha cabeça.

O time é forte. Vidal, Aránguiz (meu craque no Cartola!), Vargas, Sánchez (temporada melhor que do Neymar no Barça!). Valdívia no banco. Além disso, tiveram uma vitória épica diante da Espanha. Estão a mil.

O Brasil começou bem. Brilhou a estrela do cara que quase ficou de fora: David Luiz. Sentindo dores nas costas, por pouco ficou no banco. Num escanteio, pressionou o zagueiro adversário e conseguiu um gol contra. 1 a 0.

Depois, bobeada. Num lance que durou 3 segundos, Marcelo cobra lateral, Hulk devolve curtinho, Vargas rouba, passa para Sanchez na área, que chuta cruzado. Bá-bá-bá, gol. Não deu nem tempo de anotar a placa. Castigo por um Brasil disperso entregar a rapadura para um Chile ligadíssimo.

E desse lance, saiu um culpado instantâneo: Hulk.

Considero essa cara um tremendo injustiçado. Rápido, habilidoso, chute forte. Tem pinta de centroavante, mas é ponta. É bom tecnicamente.

Mas falta a habilidade para arrematar a mídia. Nesse ponto, se aproxima de outro nordestino tímido que honrou a amarelinha: Rivaldo.

Esteve na mesma situação de David Luiz. Sentiu dores, teve medo de se machucar seriamente. Fez exames. Não tinha nada. Dizem que Felipão sentiu que faltou entrega. Amargou uma partida no banco.

Para Hulk, no Mineirão, faltou uma forcinha do imponderável. Ele fez o gol de desempate numa finalização atrapalhada de joelho, mas o juiz marcou domínio com braço. Eu aposto que foi ombro. Pior, levou uma amarelo.

No segundo tempo, o Brasil era escombros.

Hulk pedala pela direta, deixa o chileno no chão, arremata de esquerda. Bravo defende. Hulk pela esquerda, chute de direita. Bravo defende. Hulk pela esquerda, cruzamento. Jô fura.

Pênaltis.

David Luiz, corajoso, abre a série. Gol. Mais adiante, Hulk tem a chance de fazer o seu, perde.

Júlio César salva.

O que será de Hulk?

terça-feira, 10 de junho de 2014

A culpa não é do hamburguer. É do gordo


O funk é um fato.

Está por toda parte. Na TV, na internet, no rádio. Celulares a todo volume não deixam passageiros de ônibus nem pedestres em paz – sempre tem uma menina ou um moleque ostentando a potência da batida.

Anitta, Valesca Popozuda e MC Guimê são os atuais destaques de uma linhagem que tem Naldo, Tati Quebra-Barraco e Bonde do Tigrão entre os nomes que vêm e vão entre um verão e outro.

O funk tem veneno para todo tipo de paladar. Há letras sobre armas e crime. Outras muitas sobre sexo. Muito sexo. Outros cantam sobre a ostentação de carros, motos, bebida e dinheiro. Há quem veja o funk como o canal para celebrar o “eu” em detrimento de todos ao redor. É a lógica do “desejo a todas inimigas vida longa”. Por fim, há quem consiga enquadrar as batidas na celebração de um dia de sol e algum romance.

Os funkeiros que conseguem conjugar visibilidade com uma mensagem palatável têm mais chance de conquistar espaço nos veículos de comunicação.

É o que aconteceu com MC Guimê. Ídolo da periferia, ostentou milhões de visualizações no YouTube até ser pescado para a TV.

Puxando pela memória, e considerando só os produtos da Globo, me lembro que recentemente Guimê foi repórter por um dia no Fantástico, foi entrevistado pelo histórico  Mário Sérgio Conti na Globo News, foi o “anfitrião” da cidade de São Paulo para dar dicas de passeios aos turistas que virão para a Copa numa série especial do G1. Cereja do bolo: gravou a música de abertura da atual novela das 7. (Não por coincidência, “Geração Brasil”).

Não são poucos os que se incomodam um tipo de música considerada sem qualidade. O debate é bom.

Penso que, se o funk é uma droga, o problema não é substância e sim a dose. Comer um lanche no Mc Donalds é bom. Fazer todas as refeições ali é judiar do corpo e entupir as artérias. O mesmo vale para o funk – sertanejo, pagode, axé, também estou falando com vocês.

Acredito que quanto mais estilos musicais, melhor. Seja ele do nível que for, da celebração da bunda ou da batata.

O problema é se cara ouve SÓ isso. Se a pessoa só escuta funk, não tem interesse em conhecer outros estilos ou em canções que a faça pensar. O problema é o cara viver esse estilo de vida da zueira, da roupa que vale mais que tudo, da festa que vale mais que o estudo – do eu que vale mais que o outro.

O que não pode é o cara sair por aí com seu celular no último para todo mundo ouvir, sonhando em ter seu carro para ligar o som no último para mais gente ainda ouvir.

É esse comportamento, meu amigo, que me incomoda.

Sim, porque acredito que o problema não é a música. Tudo tem sua hora. Se eu estiver numa festa e dependendo do humor (e da cerveja) rolar um pagodinho, um funk ou o arrocha que seja, também vou curtir. Num domingo quente de praia não dá pra tocar Milton Nascimento, por exemplo.

O bom humor e o calor humano brasileiros são o nosso diferencial perante outras nações. Mas não podemos deixar a malemolência e o ziriguidum nos derrubarem.

O excesso de junk food musical também é estimulado pela mídia, sem dúvida. Mergulhada numa crise que parece mortal, a indústria fonográfica aposta todas as esperanças no que der o retorno mais imediato. Dá-lhe beijinho no ombro, o sertanejo mais debilóide, o pagode mais boca aberta, a balada rock mais picareta... Isso alimenta o que vemos na TV, ouvimos no rádio, repercutimos nas redes sociais. Não há a menor chance ao artista com uma proposta mais inteligente ter espaço junto ao grande público.

Ouvir um estilo não significa anular outro. Se a TV e o rádio tomaram suas decisões, a internet está aqui. Conhecer o que já foi feito na música e o que está acontecendo de novo é uma jornada que não tem fim. Não se trata de discutir sobre qualidade da canção – mas da curiosidade musical e da educação de quem ouve.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Jogo de palavras


A crise da água paulista trouxe à tona um problema de vocabulário para Geraldo Alckmin. Conforme as torneiras secam, aumenta o contorcionismo linguístico do governo para amenizar a situação. 

Veja, uma especulada multa para quem consumir acima do habitual foi chamada pelo governador de sobretaxa. Quem mora na região metropolitana sabe que tem dia e hora certa para faltar água. Mas o que acontece não é um racionamento e sim uma intermitência no abastecimento, conforme a Sabesp. Tá bom.

Isso me fez lembrar que outras coisas já não se chamam mais como eu aprendi.

As pessoas não morrem mais de derrame. Têm um AVC. O doce que o pequeno Pedro chamaria de bolinho, hoje tem o nome de cupcake. Talvez digam que cupcake não é um bolinho diferente, mas sim diferenciado, que é o diferente especial.

Favela virou comunidade. Deficiente virou portador de deficiência. Valesca Popozuda tirou da obscuridade um termo psiquiátrico - recalque - e o colocou como substituto de inveja no Aurélio das ruas.

Por mais que algumas coisas mudem ao sabor do gosto do povo, outras palavras permanecem amarradas para sempre numa mesma expressão.

A távola sempre será redonda, a meada sempre vai ter um fio (às vezes perdido). Quem não tem eira, também fica sem beira.

A resposta estaria nas gavetas do engavetamento?


quinta-feira, 15 de maio de 2014

Me convoca, Dilma!


Felipão já convocou seus jogadores, mas para mim ainda falta o Fred para fechar a seleção. Sua vaga está lá esperando. Se a 30 dias da Copa ainda tem estádio em obras, Dilma já pode me escalar na reforma ministerial: vinha completando uma arena por semana até outro dia, mas aí a grana para as figurinhas acabou. “Nada que prejudique a #CopadasCopas”, postaria nossa presidenta-competenta.

A febre do álbum da Copa me parece um oásis de entusiasmo num deserto de desilusão neste mês que precede o Mundial. Não é preciso repetir aqui as razões para a má vontade – ou mesmo raiva – com a Copa. As manchetes dão replays dos gols contra administrativos todos os dias.

Porém, percebo que o colecionismo das figurinhas se conectou com um amor pelo futebol que temos dentro de nós e que vem antes do ódio pelos maus governos. Mais que isso, os pacotinhos de cinco adesivos por 1 real conseguiu nos fazer curtir, comentar e compartilhar com os amigos no modo offline e carne e osso.

Me surpreendi em ver o volume de pessoas se divertindo em colar fotos num catálogo de papel. Por um momento, deixamos de ser essas criaturas hiperdigitais do 3º milênio para curtir um hobby tão velho quanto o Zagallo..

Porém, ainda não vejo as ruas pintadas de verde e amarelo. Poucos comércios estão enfeitados. Muitos se limitam a exibir na parte da frente suas cornetas e outros apetrechos à venda para torcedores. O cima de Copa custa a nascer.

Há sete anos a Copa era vista pelo governo e imprensa como uma vitrine do Brasil para o mundo. Mostraríamos a força de um país que deixava a lama rumo ao Olimpo do planeta.

E não é que eles estavam certos?

A Copa serve como vitrine sim, mas para mostrar para o mundo aquilo que já conhecemos: incompetência para entregar o que é prometido, superfaturamento e descaso com as necessidades básicas do povo.

Essa vai ser a Copa do “estádios e olhe lá”. O torcedor estrangeiro pode esperar o que o brasileiro tem: um lugar para sentar a bunda e ver o jogo. Vai ser trânsito para chegar, para sair, fila, falta de informação, comida cara. E dê-se por satisfeito.


Ah sim, e o legado da Copa? Um álbum com figurinhas de estádios em obras para guardar de recordação.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

De Pato pra Ganso


O São Paulo acabou sendo o time que emprega duas decepcionantes ausências na lista dos convocados para a Copa do Mundo de 2014. Alexandre Pato e Paulo Henrique Ganso perdem sua segunda Copa consecutiva. Culpa deles próprios.

No caso de Pato, dá para traçar um paralelo com Neymar. O santista teve tempo de provar seu talento, indo além das jogadas impressionantes. Ganhou títulos, conquistou a Libertadores e foi sempre o protagonista. Mesmo que nunca mais venha a jogar pelo Santos, já cravou seu nome na história do clube. Foi para a Europa quando não havia mais degrau para subir no Brasil.

Já Pato foi alçado à condição de super-craque graças fazendo menos de 30 partidas pelo Internacional. Não teve tempo para liderar uma campanha longa que resultou num título.

Na Itália, as sucessivas lesões minaram sua frequência em campo e o tiraram da Copa da África do Sul, em 2010. Fatalidade.

Corta para o Ganso.

Sua visão de jogo, passes precisos, dribles curtos e muita categoria o alçaram à condição de melhor meio-campista do país.

Dunga foi infernizado para levar a dupla Neymar-Ganso para a África. Muitos garantiam que ao menos a presença de Paulo Henrique era fundamental. Ganso não foi convocado e perdeu sua primeira Copa.

Enquanto boa parte do brilho de Neymar no Santos se deve ao fato dele não ter se machucado, Ganso ficou mais de seis meses parado após romper os ligamentos do joelho. Vejo esse fator como determinante em sua carreira, pois foi ali que perdeu sua regularidade no rendimento.

Sentindo-se desvalorizado diante dos privilégios de Neymar, Ganso foi para o São Paulo  - um plano B onde teria mais espaço e o status de grande contratação. Saiu brigado com a torcida santista e com o futebol em baixa,

Volta para Pato.

O momento decisivo na carreira de Pato foi sua decisão de trocar a Itália pelo Corinthians. Arriscado, pois o esquema tático de Tite não tinha espaço para ele e seu perfil era muito diferente do jogador raçudo e brigador que faz o gosto da torcida.

Deu a lógica: sua passagem pelo Parque São Jorge foi marcada pela displicência e falta de comprometimento. 

Mostrou deficiência em fundamentos, perdeu muitos gols, se escondia entre os zagueiros... A inaceitável cavadinha defendida por Dida foi o retrato acabado do jogador que se coloca acima do grupo e cultiva a pose. Nada podia ser pior diante dos olhos de Felipão.

Desmoralizado, Pato foi para onde deveria ter ido antes, o São Paulo. Visivelmente mais à vontade, tenta encontrar seu bom futebol, mas é tarde demais.

No Morumbi encontrou um Ganso que há um ano tenta provar que é mais do que uma miragem do passado. Está difícil com o ritmo de uma jogada boa a cada três jogos ruins. Seu estilo de jogo refinado hoje é visto como lento e o jogador - claramente orientado por seus agentes - tenta desviar o foco dando entrevistas em que se diz acima da média e criticando o esquema do treinador. Deprimente.

"De Pato para Ganso", assim como no infame trocadilho, nada muda no destino dos jogadores, apesar das histórias diferentes. Tinham tudo para ser titulares nesta histórica Copa, mas morreram abraçados. Quem sabe na próxima...

terça-feira, 6 de maio de 2014

O Poço


Quando a privada mortal estourou o crânio de um torcedor em Pernambuco, o barulho que ouvi foi o eco de uma pedra que encontrou o fundo do poço.

No parapeito de um estádio de futebol, com a porcelana nas mãos, o agora identificado como Everton Filipe Santana era a semelhança de alguém que encosta na borda de um poço no meio do mato e quer saber se é fundo. Ao jogar uma pedrinha lá dentro, o sujeito consegue ter uma noção de sua profundidade, se talvez há água ali.

O poço que se abriu por instantes no Estádio do Arruda era escuro, macabro e selvagem. Era uma fenda que nos ligava ao que temos de mais primitivo e animalesco. Na pele de Everton Santana, num gesto insano, resolvemos testá-lo.

A notícia que tenho é que parece faltar pouco para chegarmos ao nível mais baixo desse poço maldito.

Pela frequência e capilaridade, deixaram de ser isolados os casos de violência extrema que vemos no noticiário. 

É o ladrão que foi espancado e amarrado ao poste, o pedófilo suspeito que teve o pênis cortado, a dentista que foi queimada viva por assaltantes, outra dentista que foi estuprada e assaltada em seu consultório. Teve a família que encontrou a cabeça do parente em uma mochila na porta de casa e o juiz de futebol degolado dentro de campo. A mulher arrastada no asfalto por uma viatura de polícia foi seguida pelo menino diabético morto pelo padrasto por excesso de insulina e o menino morto pela madrasta com uma injeção letal.

As capitais estão anestesiadas com a violência e as cidades pequenas chocadas a crueza do que seria impensável. Não há para onde correr.

Penso: será que foi sempre assim?

Talvez pedófilos, assassinos cruéis e toda sorte de barbaridade sempre tenham existido, a diferença é que hoje há muito mais olhos para ver. 

Com uma câmera em cada celular e uma notícia por segundo na internet, o que antes passaria batido hoje ganha repercussão nacional.

O caso mais recente acertou esta questão de maneira atordoante.

A mulher do Guarujá foi espancada até a morte pelos vizinhos por causa de um boato em uma página do Facebook. A página dizia que uma mulher estaria sequestrando crianças para rituais de magia negra e publicou um retrato falado.

Os detalhes do caso são cinzentos, mas o que se tem certeza é:
- Não houve nenhum caso de sequestro ou morte de crianças em rituais no Guarujá nos últimos meses.
- O retrato falado foi feito no Rio de Janeiro para descrever uma mulher que cometeu um crime em 2012.

Por acaso, o retrato se parece com a mulher do Guarujá. Os moradores, mesmo sem ter uma criança desaparecida para suspeitar, mesmo que a mulher fosse mãe de duas crianças, trucidaram-na porque ela se parecia com um desenho que eles viram no Facebook.

“Click, plau plau plau e acabou. Sem dó e sem dor”, diriam os Racionais.

Parece loucura, mas a privada atirada do Recife cruzou o mapa do país e acertou uma vítima no Guarujá.

As mãos têm o mesmo dono: a estupidez.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Está difícil gostar de futebol


No ano da Copa, o país do futebol viu seu principal campeonato começar de forma péssima. Na estreia do Campeonato Brasileiro, três jogos terminaram em 0 a 0. O burocrático e cínico futebol praticado no país mostrou na primeira rodada o que já nos acostumamos a ver: lentidão, falta de criatividade e simulação de faltas.

A obsessão do jogador brasileiro em cavar faltas tem um resultado terrível. A bola está mais tempo parada do que em jogo. Nenhum jogo da primeira rodada teve ao menos 60% de seu tempo com a bola rodando, que é o mínimo recomendado pela Fifa. Porém, não é preciso ser um perito da entidade máxima do futebol para enxergar o óbvio.

Não nos enganemos. O jogo que representa o momento em que vive o futebol brasileiro não é os 3 a 0 que a seleção impôs à Espanha na final da Copa das Confederações. É os 8 a 0 que o Santos levou do Barcelona no trágico amistoso do ano passado.

Dá para enumerar as evidências. Hoje temos na seleção brasileira não apenas jogadores que atualmente atuam em times europeus, mas uma quantidade crescente de atletas absolutamente desconhecidos do torcedor. Para se ater apenas ao time titular da  final da Copa das Confederações, David Luíz, Daniel Alves, Luís Gustavo e Hulk foram apresentados a nós já vestindo a camisa amarela. No banco há ainda Dante e Maxwell. Há muitos outros bons jogadores que são desconhecidos do brasileiro e têm bola para jogar na seleção, como Phillipe Coutinho, Rafinha, Filipe Luís e o mais famoso, Diego Costa. Dava para montar umas três seleções brasileiras.

Outro ponto é a imbecil tara que os jogadores têm em se jogar para simular uma falta. Não entra na minha cabeça como alguém de frente para o gol prefere soltar o corpo e cair ao mínimo contato do que ir até o fim no lance e tentar a finalização.

Se falta competência para entrar jogando dentro da área adversária, porque não arriscar chutes de longe? Os chutes que vemos são raros e constrangedores. Parece que os jogadores desaprenderam a chutar de fora da área.

Fora do campo, nosso futebol também dá vexame. Na Série B, um oficial de Justiça foi a principal estrela do jogo da Portuguesa e paralisou a partida. Vergonha, fiasco para nós, o país do desperdício. Com tanta gente talentosa, com tantos torcedores apaixonados, parece que os comandantes do nosso futebol fazem de tudo para sucateá-lo.

O Bom Senso se tornou uma conversa de surdos. Cadê a greve na primeira rodada?

Um raciocínio não sai da minha cabeça. Li de alguém que o consumidor vai atrás de onde tem qualidade. Com a crescente repercussão dos jogos do futebol europeu no Brasil, periga de começar um esvaziamento e haver torcedores com o interesse lá no outro lado do Atlântico.

Também ouvi que os anciões da CBF se escondem atrás das 5 estrelas de campeão mundial do Brasil. Parece que ser o maior vencedor de Copas nos fez parar no tempo. Basta montar um time vencedor com a camisa amarela e todo o resto do futebol brasileiro que se dane.

É a pose como filosofia de administração. Estamos perdidos.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Letras tristes





Hoje morreu Gabriel Garcia Márquez. Uma perda terrível para a literatura contemporânea. Fico pensando que foi a morte mais sentida depois da ida de José Saramago.


Garcia Márquez é muito querido por uma geração um pouco anterior à minha. Li Cem Anos de Solidão e a saga da família Buendía, mas faz tanto tempo... me lembro que o clima era envolvente e que o sofrimento percorria o livro em cenas tocantes, como a da jovem prostituta que - além de ter o corpo coberto de queimaduras - precisava torcer o suor dos lençóis antes de receber mais um cliente.

Contudo, o livro de Gabo que mais me marcou foi "Relato de Um Náufrago". A obra não é ficção e sim um relato colhido de uma história real do tempo em que Márquez era repórter.

Conta a história de um jovem militar que estava a bordo de um destróier nos Estados Unidos, mas que acabou afundando no Mar do Caribe. Único sobrevivente, ele ficou dias à deriva em uma balsa inflável, mastigando cartões de papelão, cadarços e tentando pescar peixes com as mãos. Estava rodeado de tubarões o tempo todo.

A certa altura, consegue pegar uma gaivota com as mãos fingindo-se de morto. Ele fez tanta força para quebrar o pescoço do bicho que quase arrancou a cabeça. Lembro da descrição da facilidade para desmembrar a ave, que era assustadoramente frágil. Mesmo desesperado de fome, o náufrago não conseguia comer aquela maçaroca de carne e sangue. Enojado, arremessou aos tubarões.

Foi meu pai que me recomendou esse livro, o que o torna mais especial para mim. Foi a partir dele que tomei gosto por histórias de náufragos e também sobre escritores latino-americanos. De certa forma, Garcia Márquez me levou a Mario Vargas Llosa, de quem gosto demais.

É triste a perda de uma grande artista como Gabo e mais triste ainda se questionar: quantos mais vão nos fazer tanta falta quanto ele?


quarta-feira, 9 de abril de 2014

Cauby: como é cruel cantar assim


Em 2013, realizei um desejo. Assisti a um show de Cauby Peixoto.

Cauby sempre me chamou a atenção. Pelo nome. Pelas roupas espalhafatosas. Pelo vozeirão. Pela peruca. Por ser velho. Por ser da época do rádio.

Mas principalmente por carregar numa certa androginia. Meio galã, meio bichona, ele esconde entre caracóis, pó de arroz e uma pintinha de pin up algo de uma interrogação rock'n roll.

Seu show surpreende. A cada música, não se sabe se Cauby vai alcançar um grave de reverberar no peito, se vai esquecer a letra ou parar tudo para anunciar que vai gravar um disco de jazz.

Banda a postos, o astro é gentilmente conduzido pela mão por uma sorridente senhora até sua cadeira no centro do palco. Veste um blazer de lantejoulas. Saúda a plateia. Coloca os óculos de grau e se volta para o suporte à altura dos olhos, onde estão as letras. É a deixa para o show começar.

A voz impressiona. O repertório é de clássicos do cancioneiro nacional da primeira metade do século passado. Dá-lhe "Chão de Estrelas" e serestas que eu nunca ouvi falar. Não é o tipo de música que escuto no dia a dia, mas é um pedaço do passado musical brasileiro lutando para viver.

Cauby já não tem mais condições de fazer uma apresentação completa. Duas ou três músicas na TV, ok. Um show completo, não.

Deve ser enlouquecedor tocar na banda desse cara. Os músicos seguem Cauby e o amparam assim como a cuidadora que o deixou no palco. Ele se perde. Se enrola com o andamento das músicas. A certa altura, apenas murmurava a melodia. Não foram poucas as vezes em que, avoado enquanto os músicos executavam a canção, ele confessa: "estou perdidinho. Vocês me ajudam?", se dirigindo ao público. Todos são amorosos com Cauby.



No melhor momento do show, ele fica sozinho com o violonista Ronaldo Rayol. Canta lindamente "Granada", que tem um violão flamenco simplesmente inacreditável, e emenda várias serestas.

No repertório, há canções prontas para o arrebatar a plateia. As senhoras ficaram em polvorosa aos primeiros acordes de "Emoções", de Roberto Carlos. Pena que Cauby esqueceu a letra. De minha parte, surpresa quando o grande intérprete arriscou "Something", dos Beatles. Frustração: cantou de forma burocrática. Parece que ele guarda seu melhor para as canções preferidas.

De "Bastidores", sucesso que é meu preferido: "como é cruel cantar assim". Cauby é uma estrela se apagando sobre o palco.







sábado, 29 de março de 2014

O morto-vivo


A manhã era comum. A pauta era trivial: mostrar terrenos de Mogi que são alvo de despejo de entulho.

Na Avenida Cavalheiro Nami Jaffet, na Vila Industrial, um comprido terreno acompanha toda a extensão da pista no lado direito. Papelão, plástico e restos de material de construção enfeiam ainda mais uma paisagem dominada verde ralo do matagal.

Em certa extensão do terreno, o mato rareava e havia um campínho de futebol. Embora as traves precárias de madeira estivesse de pé, a molecada teria dificuldade de desviar de um miserável sofá abandonado para marcar seus gols.

Fiz as fotos e até conversei com catadores de recicláveis que reviravam entulho. Já estava a 15 segundos de voltar para o carro quando escuto um "ôôô, ô rapaz". Desvio o olhar do visor da câmera e vejo uma senhora a uns 20 metros de mim, no meio do terreno, me chamando.

Fui ver o que ela queria.

- Acho que tem um rapaz morto aqui. Não se mexe, já chamei, gritei - me disse a senhorinha.

Perto do alambrado de uma empresa e de uma trilha que os moradores abriram para cortar o terreno, estava um bizarro arranjo. Havia um colchão, sobre ele uma lona amarela e embaixo de tudo um par de tênis despontava seu bico de borracha numa posição que sugeria que havia um corpo ali.

Era perto das 11h e o calor já estava grande. Não era a hora mais confortável para ficar deitado no meio do mato com um colchão mofado em cima.

Mais do que o cálculo mental de que o colchão seria suficiente para cobrir um corpo inteiro, o que mais assustava era a imobilidade dos pés. Por um momento pensei que por obra do acaso aquele par de tênis podia ter sido jogado e casualmente ficado naquela posição. Bobagem.

-Acho que está morto mesmo - me dizia a senhora após se afastar cinco passos com a minha chegada. Com esse gesto, ela entregava o abcaxi para mim. Eu que me virasse com o morto.

- Não vou mexer nele - eu disse. Vou chamar a polícia.

Não me lembro de ter ligado para o 190 antes desse dia.

No outro lado da linha, perguntas sobre o local, o estado do corpo. Iam mandar uma equipe para checar.

Me lembrei de fotografar o macabro arranjo. "Que bela virada de pauta", pensei. "Tomado pelo entulho, terreno vira local de desova de corpos", já imaginava na manchete de logo mais.

Moradores aflitos me relatariam a preocupação com a segurança à noite. Os catadores de recicláveis me revelariam histórias tenebrosas de encontros de cadáver pelas redondezas. Jovens cabisbaixos iam manifestar a tristeza em ver o campinho tão querido transformado em vala comum do crime. Resoluta, a Prefeitura implantaria um projeto para transformar aqueles dois quilômetros de terreno baldio na maior área de lazer da cidade que - em mangas de camisa - o prefeito inauguraria numa tarde de domingo.

Viro as costas para a cena do crime. Pego o celular e ligo para a redação

- Gladys, você não sabe o que aconteceu...

A mesma senhora que me chamou para mostrar o cadáver me chama novamente, mas não percebo.

Desligo o telefone e ela vem até mim.

- Moço o rapaz levantou! Acordou e me perguntou que horas são e saiu andando. Olha ele lá. Não estava drogado não. Também não estava bêbado. Estava normal.

Ao longe, um homem de camiseta e calça preta segue a passos firmes na calçada.

Volto para o colchão e a lona amarela. Revirados. Sem corpo.

Sem manchete.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Drama clássico


Nesta semana começa o Festival de Verão de Mogi das Cruzes e uma das atrações é a Orquestra Filarmônica do Sesi, regida pelo maestro João Carlos Martins. Ele volta à cidade poucos meses após se apresentar durante o aniversário de Mogi no ano passado.

Fui nesta apresentação e fiquei impressionado com a figura do maestro. O cara parece que saiu de um desenho animado. Ele tem cara de maestro - e daqueles loucos. A gente não entende nada, mas ele sacode a cabeleira com tanto drama e tem uma certa aura de mártir da música clássica, que não passa despercebido.

Pianista atingido por uma cruel paralisia nas mãos, João Carlos Martins percorre o mundo contando sua história de superação. Já foi da novela das nove às principais salas de concertos do mundo.

Em certo momento, o maestro fica sozinho ao piano. É dramático assistir suas mãos retorcidas martelando as teclas, tirando sons delicados, em um ritmo cadenciado. Sentado ali, meio envergado, ele parece ter 400 anos de sabedoria e persistência.

Em outro momento, ele atende o celular antes de uma entrevista, ainda sem público no auditório do Cemforpe. “Pois não, meu amor...” e conversa com doçura.

Em meio a um concerto cheio de peças tristes, uma prosa e outra com o público, chega o grande momento. Na última música, a orquestra toca “Trem das Onze”. O público canta junto, é emocionante. No meio da canção, o maestro fica de costas para a orquestra e rege o a plateia, é uma só voz de força e saudade.


Antes disso, houve um workshop com o maestro. Uma orquestra jovem da cidade tocou duas músicas. Dava pra ver que a regente e os músicos não cabiam em sai de alegria para se apresentar ao grande maestro. Nem por isso ele foi menos crítico. A primeira coisa que disse foi “a afinação precisa ser um obsessão...”.