terça-feira, 16 de setembro de 2014

O barraco em Itaquá - na chácara dos Mamonas

Quadro com Dinho foi presente de fãs
Coloquei o pé na sala e senti um negócio esquisito. As paredes estavam cheias de fotos de quatro caras muito de bem com a vida. Discos de platina e diamante pendurados. Reconheci a pintura enorme de um Dinho vestido de Robin. Tinha visto na TV em alguma matéria de anos atrás. Sim, eu estava na casa dos Mamonas.

A matéria nem era minha, mas fiz questão de acompanhar a visita à chácara de Itaquaquecetuba que foi comprada por Dinho e até hoje pertence à sua família.Era ali que os caras descansavam nas folgas e é onde algumas relíquias daquela época estão guardadas. Você pode ler a excelente matéria que meu amigo Douglas Pires escreveu aqui.

O pai de Dinho, seu Hildebrando, impressiona pela semelhança física com o filho famoso. O mesmo queixo quadrado, olhos escuros e o mesmo corte no cabelo branco. Ao longo da conversa ele revelou outras semelhanças.

Seu Hildebrando mistura graça com a firmeza de um coração cicatrizado. “A gente não esquece. Parece que foi ontem. Agora, o que aconteceu com esse rapaz [a morte de Eduardo Campos] parece que volta tudo de novo o que aconteceu com gente”. Mas ao mesmo tempo já emenda uma piada atrás da outra.


Com seu Hildebrando, grande figura

Ele é sempre procurado para falar do filho que brilhou até apagar há 18 anos. Lembrar dos Mamonas é como mergulhar numa pororoca braba entre a alegria do que brincaram em vida e a desolação da tragédia. Não deve ser fácil nadar ali.

Nordestino esperto e muito divertido, seu Hildebrando lembra muito Dinho quando o filho falava sério. No famoso show no ginásio Thomeuzão, em Guarulhos, o vocalista fez um discurso raivoso sobre perseguir os sonhos e conquistar o que diziam ser impossível. O lugar parecia que ia entrar em erupção com tanta energia explosiva do rapaz, que seria velado naquela mesma quadra menos de três meses depois. [Veja o vídeo aqui]

A certa altura, fomos fazer imagens de itens do figurino da banda. Aí o bicho pegou. Estendida na cama, meio amarelada e fedida, estava a pantufa da fantasia de Pernalonga. Também estava o colete roxo e a capa amarela do He-Man, o vestido do Robocop Gay e uma camiseta branca dos Mamonas Assassinas autografada pelo Dinho. Coisa fina. Uma peruca do Xororó e uma grande cartola verde e amarela fechavam o baú de tesouros. “Muita coisa está lá em Guarulhos”, disse seu Hildebrando. Posamos para fotos para guardar de recordação.

Com a peruca do Xororó. Que momento
Eu queria um apartamento no Guarujá / Mas o melhor que eu consegui foi um barraco em Itaquá”. Esses eram os primeiros versos do disco. O barraco em Itaquá foi onde a banda passou sua única virada de ano como super astros.É estranho estar ali. Banal e ao mesmo tempo emocionante pisar na mesma quadra onde aqueles caras bateram uma bolinha, a piscina onde zoaram um monte ou imaginar eles com a família correndo e brincando pelo gramado.

A força dos Mamonas estava no fato dos caras serem de verdade. Poderiam ter sido o projeto de uma gravadora, uma arapuca, uma armação, mas não, os caras eram daquele jeito. Não representavam personagens. Eram só moleques.

Foi depois de um café com pipoca que nos despedimos. Seu Hildebrando já chamava Douglas de Douglinhas e eu já queria chamá-lo para tomar uma cerveja. “Cana na roça dá cachaça e cachaça na cidade dá cana!”, comentou. Ê, seu Hildebrando...