segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O doce ketchup do Red Hot Chili Peppers


E mais um disco do Red Hot Chili Peppers chega aos meus ouvidos, confesso que sem as mesmas expectativas de antes. Meu defeito é procurar nos trabalhos novos da banda os sons selvagens dos anos 80. Mas não precisa ir tão longe, os discos recentes já fazem boa distância do clássico “Californication” , que pavimentou a curva musical que o Red Hot iniciara em “Blood Sugar Sex Magik”.

O primeiro single de “I’m With You” é aquela música da chuva, que nunca consigo lembrar o nome. Deixe eu dar uma googlada. Ah, aqui ó: “The Adventures Of Rain Dance Maggie”. Curiosamente, ela marca bem a principal novidade do disco, que é a entrada do guitarrista Josh Klinghoffer. Citado pela crítica como “sutil” e “discreto”, neste single essas posições ficam bem claras. A participação da guitarra é mínima. O solo é um anti-solo, pura barulheira de distorção. Fica difícil compará-lo com o estilo de John Frusciante, o condutor das guitarras funk da banda, herdeiro de Hillel Slovak na arte de juntar rock, punk, pitadas heavy, uma bênção de Hendrix e o suingue negro dos mestres do funk americano.

Josh tem seu brilho – assim como toda a banda - na intrigante “Monarchy of Roses” que abre o disco. Os acordes dos primeiros versos remetem ao Black Sabbath, tudo para desaguar em seguida num som disco music dos anos 70. O baixo de Flea se mistura à bateria de Chad na levada dance e já posso ver Travolta na pista, levando uma escultura de brilhantina na cabeça. E conseguem fazer essa transição com naturalidade. De certo modo, esta faixa me remeteu ao disco maldito “Onde Hot Minute”, gravado após a primeira saída de Frusciante da banda. Aliás seria muito bem-vindo se o RHCP resgatasse algumas canções deste disco antigo nos shows atuais, já que John não faz mais parte da banda.

Esse clima dançante segue na faixa seguinte “Factory of Faith”, onde Anthony retoma suas frases vocais influenciadas pelo rap.

“Ethiopia” é uma belo exemplo da importância do baixo de Flea no som do Chili Peppers. A música começa com a linha de baixo e todos os instrumentos se adaptam a ele. Como já foi dito por aí, essa fórmula do Red Hot de ter o baixo como protagonista tinha tudo para dar errado não fosse Flea ser o talento monstruoso que é.

Mas o Red Hot não é mais aquela banda que eu procuro, não tem mais o funk selvagem de discos como “Uplift Mofo Party Plan” ou “Mother’s Milk”. Não digo que seja porque a idade chegou. É mais em razão do novo estilo de vida. Artistas de mais quilometragem quando saem do rehab fazem uma reavaliação de seu som. No caso do Red Hot o material atual ainda soa interessante, ainda é fiel às influências, mas está profundamente comprometido com o pop rock. Os refrões fáceis, as melodias gostosas, as canções que afagam os ouvidos, essa é a praia do Red Hot Chili Peppers do novo milênio. Não que não seja interessante, também há espaço para experimentalismo e misturas malucas, mas sinto que algo se perdeu para um fã saudosista como eu.

Há canções em que carregam um pouco mais a mão no novo disco, como em “Look Around” e em “Goodbye Hooray”, mas nem de longe me lembram o funk doido e paulada de músicas como “No Chump Love Sucker”, “Good Time Boys” ou o groove de “If You Have to Ask”.

O Chili Peppers continua ótimo, mas com um outro espírito, menos peppers e mais ketchup. A conferir essa mistura ao vivo no Brasil.

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