domingo, 23 de outubro de 2011
Galvão no EE - Face
domingo, 18 de setembro de 2011
Tempo
domingo, 11 de setembro de 2011
A pátria nas ruas
Famílias inteiras reunidas, bandeirinhas coloridas, faixas com mensagens sinceras, gritos de incentivo, o coração falando alto. Um desejo único, milhares compartilhando do mesmo sentimento. Sensação de que tudo ao redor está vivo e de que o mundo se move na mesma vontade. Uma nação inteira movida pela identificação de que o próximo é um igual.
O último 7 de setembro foi assim, mas não durante os desfiles cívicos da Independência nem durante as marchas contra a corrupção. O único evento que mobilizou as massas e tocou o coração de milhares foi o jogo número 1000 de Rogério Ceni com a camisa do São Paulo. Foi mais do que irônico ver o Morumbi lotado e a paisagem viva de 60 mil pessoas vibrando na adoração ao seu ídolo. Enquanto isso centenas de gatos pingados erguiam seus cartazes contra os políticos corruptos – a despeito da confirmação virtual da participação de milhares nos protestos.
Por que o brasileiro não se mobiliza com força para protestar contra a política? Acredito que dentre os vários fatores está a falta de uma bandeira bem definida para erguer. Todos sabemos que os serviços públicos são ruins e que os políticos enriquecem indevidamente, mas esse sentimento geral mais parece uma grande nuvem que não consegue se materializar com força para que se torne num alvo concreto a ser combatido. Ou num objetivo a ser alcançado.
Além da força da imagem das multidões nas ruas gritando por um objetivo é preciso que este movimento tenha ação pragmática; é preciso que tenha uma proposta.
Já foi dito que a proliferação impressionante de escândalos de corrupção desanime o cidadão a acompanhar com atenção os acontecimentos políticos do país e esta vigilância frouxa seja um dos principais fatores para a apatia geral diante de tanta coisa errada.
Para conseguir um a mobilização forte e envolvente – assim como as torcidas dos estádios de futebol – acredito que é preciso defender uma causa concreta. Propostas não faltam: é preciso reduzir o número de ministérios, acabar com as votações secretas no Congresso e reduzir os bônus salariais dos parlamentares por exemplo.
É preciso um movimento forte que atue tanto na rua quanto nos dispositivos que permitem que as demandas dos cidadãos se realizem.
quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Show de rock ao vivo no cinema: algumas ideias
Enquanto escrevo estas linhas, algumas milhares de pessoas se preparam ansiosas para ir ao cinema. Ou melhor, para ir a um show. Sendo mais claro: para assistir a um show de rock no cinema. Isso porque o Red Hot Chili Peppers faz hoje seu show oficial de lançamento do novo disco “I’m With You”, que será transmitido ao vivo para cinemas de todo o planeta, no Brasil inclusive. Trata-se de uma nova estratégia da indústria da música para seduzir o fã e se adaptar nestes tempos de vazamentos de discos e pirataria.
A transmissão de shows pela internet já nem é tão novidade. O Youtube – pra citar o maior dos sites de compartilhamento – faz isso com frequência, inclusive com artistas brasileiros. Filmes e documentários sobre bandas em cima do palco também são mais que tradicionais – incluindo com parcerias de grife, como o filme de Martin Scorcese sobre os Rolling Stones chamado “Shine a Light”.
O que me intriga nesse modelo proposto pelo Red Hot é que ele pode ser o início de um novo tipo de evento para a música. Pense bem, os fãs esperam desde 2006 por um novo disco da banda e vão assistir à explosão sonora e colorida do funk californiano sentadinhos nas poltronas da sala escura. Imagine quantos não queriam estar de pé, com sua cerveja na mão, pulando e pirando em “Give It Way”?
Acho que esse esquema do lançamento oficial do disco com show transmitido para o mundo todo abre caminho para novas possibilidades. Poderiam formar uma rede de exibição em lugares menores, já com espaço pro pessoal curtir como se fosse um show normal, talvez em baladas.
Os fãs que vão lotar os cinemas brasileiros pagaram 60 reais de ingresso pela experiência, que inclui um saco de pipocas e uma coca-cola, como se fossem assistir ao último filme do Harry Potter. Muitos comentaram que em vez de ir ao cinema pagando um ingresso desses vale mais a pena comprar o DVD. Faz sentido.
Este tipo de ação não precisa se prender ao “formato” tradicional do cinema. É fato que as salas modernas contam com sistema de som e imagem em alta definição, mas esse novo modelo poderia ser melhor explorado se o público pudesse ficar mais à vontade, como se estivesse mesmo no show da banda.
O fato é que todos nós somos as cobaias da era digital, somos a primeira geração a lidar com a internet, essa força estranha e fascinante que cada vez mais vira o mundo do avesso. Músicos, consumidores, imprensa e gravadoras estão tateando meio perdidos, tentando encontrar um caminho. Quem tiver ousadia e souber criar o novo aproveitando o que já dá certo pode ser dar muito bem.
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Tristeza
A tristeza não é um abismo negro de tortura. A tristeza é amiga. Ela nos faz olhar para dentro de nós mesmos. Tem a mecânica parecida com os fenômenos da natureza que nos fazem contemplar a ponta do nariz, como dizia Machado.
A tristeza dói, mas também pode curar. É preciso tomar a tristeza como um singelo presente, um remédio amargo, mas que se ministrado com paciência e disciplina revigora o corpo, mapeia a alma.
A tristeza deve ser respeitada. É preciso muito pudor para tentar se meter com a tristeza alheia. O que parece masoquismo pode funcionar como um retiro para a meditação. Um pit-stop espiritual. Necessário. Como o Buscopan amargo da minha infância.
O doce ketchup do Red Hot Chili Peppers
E mais um disco do Red Hot Chili Peppers chega aos meus ouvidos, confesso que sem as mesmas expectativas de antes. Meu defeito é procurar nos trabalhos novos da banda os sons selvagens dos anos 80. Mas não precisa ir tão longe, os discos recentes já fazem boa distância do clássico “Californication” , que pavimentou a curva musical que o Red Hot iniciara em “Blood Sugar Sex Magik”.
O primeiro single de “I’m With You” é aquela música da chuva, que nunca consigo lembrar o nome. Deixe eu dar uma googlada. Ah, aqui ó: “The Adventures Of Rain Dance Maggie”. Curiosamente, ela marca bem a principal novidade do disco, que é a entrada do guitarrista Josh Klinghoffer. Citado pela crítica como “sutil” e “discreto”, neste single essas posições ficam bem claras. A participação da guitarra é mínima. O solo é um anti-solo, pura barulheira de distorção. Fica difícil compará-lo com o estilo de John Frusciante, o condutor das guitarras funk da banda, herdeiro de Hillel Slovak na arte de juntar rock, punk, pitadas heavy, uma bênção de Hendrix e o suingue negro dos mestres do funk americano.
Josh tem seu brilho – assim como toda a banda - na intrigante “Monarchy of Roses” que abre o disco. Os acordes dos primeiros versos remetem ao Black Sabbath, tudo para desaguar em seguida num som disco music dos anos 70. O baixo de Flea se mistura à bateria de Chad na levada dance e já posso ver Travolta na pista, levando uma escultura de brilhantina na cabeça. E conseguem fazer essa transição com naturalidade. De certo modo, esta faixa me remeteu ao disco maldito “Onde Hot Minute”, gravado após a primeira saída de Frusciante da banda. Aliás seria muito bem-vindo se o RHCP resgatasse algumas canções deste disco antigo nos shows atuais, já que John não faz mais parte da banda.
Esse clima dançante segue na faixa seguinte “Factory of Faith”, onde Anthony retoma suas frases vocais influenciadas pelo rap.
“Ethiopia” é uma belo exemplo da importância do baixo de Flea no som do Chili Peppers. A música começa com a linha de baixo e todos os instrumentos se adaptam a ele. Como já foi dito por aí, essa fórmula do Red Hot de ter o baixo como protagonista tinha tudo para dar errado não fosse Flea ser o talento monstruoso que é.
Mas o Red Hot não é mais aquela banda que eu procuro, não tem mais o funk selvagem de discos como “Uplift Mofo Party Plan” ou “Mother’s Milk”. Não digo que seja porque a idade chegou. É mais em razão do novo estilo de vida. Artistas de mais quilometragem quando saem do rehab fazem uma reavaliação de seu som. No caso do Red Hot o material atual ainda soa interessante, ainda é fiel às influências, mas está profundamente comprometido com o pop rock. Os refrões fáceis, as melodias gostosas, as canções que afagam os ouvidos, essa é a praia do Red Hot Chili Peppers do novo milênio. Não que não seja interessante, também há espaço para experimentalismo e misturas malucas, mas sinto que algo se perdeu para um fã saudosista como eu.
Há canções em que carregam um pouco mais a mão no novo disco, como em “Look Around” e em “Goodbye Hooray”, mas nem de longe me lembram o funk doido e paulada de músicas como “No Chump Love Sucker”, “Good Time Boys” ou o groove de “If You Have to Ask”.
O Chili Peppers continua ótimo, mas com um outro espírito, menos peppers e mais ketchup. A conferir essa mistura ao vivo no Brasil.
domingo, 28 de agosto de 2011
1991, um ano rock: Red Hot Chili Peppers
Este álbum, “Blood Sugar Sex Magik”, lançou o Red Hot Chili Peppers ao sucesso mundial, e mais que isso, marcou uma certa “curva” em sua produção musical. Os primeiros discos da banda juntavam o funk sujo da guitarra com os vocais rap do vocalista Anthony Kiedis, tudo conduzido pelo monstruoso baixo de Flea, um dos principais baixistas de toda a história do rock. Porém, nos primeiros anos, a banda não foi muito além do circuito underground americano, com algumas excursões pela Europa.
Abusando das drogas, sofreram um doloroso baque com a morte do guitarrista original, Hillel Slovak, em 1988, por overdose. John Frusciante assumiu seu lugar e em 1989 lançaram o disco “Mother’s Milk”. Mas foi com “Blood Sugar Sex Magik” que o Red Hot conciliou a fúria de seu funk com um acabamento mais pop.
A balada “Under the Bridge” - sobre a conexão de Anthony Kiedis com Los Angeles e impregnada de um certo fundo melancólico mencionando seu vício em drogas – mostra muita sensibilidade de John Frusciante. A acústica “Breaking the Girl” mostra uma faceta do Chili Peppers nunca apresentada nos discos anteriores. Tem percussão experimental e mellotron, conta ainda com o belo backing vocal de John Frusciante.
O maior clássico do Chili Peppers, “Give It Way” também é deste disco. A canção tem todos os elementos do som do Red Hot e conta com um clipe surreal, de fotografia prateada, gravado no meio do deserto americano. A influência funk neste disco continua em canções como “Suck My Kiss”, “Mellowship Slinky in B Major”, “If You Have to Ask”, “Sir Psycho Sexy” e muitas outras. A riqueza do álbum é impressionante. Este disco marca também a parceria da banda com o produtor Rick Rubin, que trabalha na produção de seus discos até hoje.
“Blood Sugar” chega a ser apontado como percussor do new metal, por aliar o vocal rapeado ao peso. Não acho que chega a tanto, acredito que as bandas de new metal têm outras referências.
O guitarrista John Frusciante deixou a banda durante a turnê deste disco, gerando certa instabilidade. O RHCP passou por um período conturbado no meio dos anos 90 com o irregular disco “One Hot Minute”. Voltaram ao sucesso mundial com o “Californication”, de 1999. Mas a esta altura, a banda tinha se reinventado totalmente em relação ao que foi em seu início, nos anos 80. A nova direção sonora começou a ser trilhada em 1991, com “Blood Sex Magik”.
E aí, curtiu? Aqui termina a pequena série sobre discos clássicos do rock lançados há 20 anos, em 1991. Confira também os textos sobre os discos de Nirvana, Metallica e Ozzy Osbourne lançados naquele ano. Até mais!
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Dilma empresta a vassoura de Jânio
sábado, 20 de agosto de 2011
1991, um ano rock: Nirvana
As luzes apagadas.
"With the lights out / it’s less dangerous" (com as luzes apagadas / é menos perigoso). O primeiro verso do refrão de "Smells Like Teen Spirit" soa como uma cruel ironia, 20 anos depois do lançamento do disco que é quase um consenso quando se pensa no último "clássico obrigatório" do rock.
"Nevermind" puxou todas as luzes para o Nirvana e espalhou as vísceras do rock alternativo na cara do grande público. Subverteu o sistema. Revolucionou os conceitos de underground e mainstream. E o calor dos holofotes foi sim perigoso. Mais do que isso, foi fatal para Kurt Cobain.
Este disco do Nirvana fez tanto sucesso que foi decisivo para alavancar as carreiras de outras bandas como Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden, além de ajudar a enterrar a farofada hard rock dos anos 80. Mais que isso, fez com que se prestasse mais atenção no que acontecia nas garagens dos subúrbios. Provou que o sonho é possivel.
Mas o que faz este disco tão especial? Uma série de fatores.
O álbum anterior do Nirvana já trazia a essência do que temos aqui, mas "Bleach" era mais tripas, mais bruto, menos lapidado. Um punk-sujeira. Em Nevermind o Nirvana teve a manha de embalar sua fúria num embrulho mais apresentável.
Dominaram a fómula verso calmo/refrão nervoso/verso calmo. E ainda teve a estreia de Dave Grohl na bateria, talvez o maior legado que o Nirvana deixou ao rock. "Here we are now / entertain us" (estamos aqui agora / entretenha-nos). Em "Smells Like Teen Spirit", Kurt cantou a apatia de sua geração e a busca por alívio, numa espiral de alienação e conforto passageiro que não leva a nada muito construtivo. Nada muito diferente do que vivemos hoje na geração do "xinga muito no Twitter". Talvez por isso este disco do Nirvana ainda permaneça importante e, repito, figure como o último clássico obrigatório do rock. A potência punk do refrão e o impressionante voz rasgada de Kurt não deixam ninguém indiferente a esta música. É fantástico como Kurt Cobain tinha voz limpa e bonita para as partes lentas mas gritava como se tivesse um pedal de distorção na garganta quando era preciso.
Não é necessário repetir aqui sobre a exibição exaustiva do clipe desta música na MTV, da moda das camisas de flanela e o visual sujo e largado que dominou as ruas. Vamos nos deter à música.
Em “Come As You Are”, por exemplo o efeito do pedal chorus na guitarra dá uma certo equilíbro oitentista à canção, enquanto a bateria esperta de Grohl sabe a hora certa de atacar. A bela voz de Kurt finaliza o serviço. É praticamente um pop-rock que não ofenderia sua tia num churrasco com a família. "And I swear that I do'nt have a gun" ( e eu juro que não tenho uma arma). Em compensação, este se tornaria um dos versos mais perturbadores de Kurt, após seu suicídio pouco mais de dois anos após o lançamento deste álbum.
A letra de "Lithium" é apontada como uma amostra da personalidade de Kurt. "I'm so ugly / that's ok cause so are you / we've broken our mirrors" (eu sou tão feio / tudo bem, pois você também é / nós quebramos nossos espelhos). Isso diz muito sobre a atitude marginal e desencantada do grunge da época. O instrumental também é um típico Nirvana, com seu formato circular, uma batida que lembra músicas de acampamento, de excursão, um certo fundo de inocência profundamente pervertido pela amargura desesperada de Kurt.
O que me intriga nessa música é que ela tem o refrão mais dançante no Nirvana e nos vídeos ao vivo toda a plateia pula e dança loucamente, numa celebração rock'n roll da vida. A banda toca com gosto e todos sorriem e curtem. O único fora da festa é Kurt. Totalmente alienado do que acontece ao redor, sua performance é de dor e não de celebração. Essa tensão nos shows do Nirvana é muito clara. Talvez a banda tenha sido tão amada que não se percebia que a poesia era escrita com sangue.
O disco ainda traz canções acústicas como a perturbadora "Polly" (sobre a tragédia de estupro e tortura de uma garota contada sob o ponto de vista de seu algoz) e "Something in The Way" (sobre o mito de que Kurt morou debaixo de uma ponte em Aberdeen, sua cidade). Mas o que consagrou o disco foi a fórmula grunge que combinou punk rock, música suave, música nervosa, gritos, sussurros, batida pop e muita verdade.
A série sobre 1991 segue com os discos lançados por Ozzy Osbourne e Red Hot Chili Peppers. Valeu!
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
1991, um ano rock: Metallica
Poderia começar dizendo que como um bom vinho, que melhora de qualidade com o passar dos anos, alguns discos adquirem certa aura especial ao sabor da correnteza do tempo e que a distância entre o presente o passado só nos faz aumentar a lucidez do reconhecimento da grandeza das obras primas do passado.
Mas não. Prefiro pizza.
Como uma bela pizza amanhecida, certos discos de ontem soam ainda hoje sensacionais. É uma ideia do tipo "se hoje já é bom, imagina quando tava quentinho".
E em 2011 completa-se 20 anos de lançamentos de alguns álbuns clássicos do rock. Era uma época em que já se questionava se o velho rock'n roll não estaria se esgotando. Não amigo, hoje podemos citar vários discos importantes lançados em 1991. Escolho quatro. Vamos ao primeiro, o disco "Metallica" da banda de thrash metal de mesmo nome, mas popularmente conhecido como "álbum preto".
O lançamento deste disco catapultou o Metallica a um novo patamar. Vinda de uma das vertentes mais rápidas e pesadas do metal, a banda conseguiu domar seu som num formato em que as canções não perderam o vigor e a ferocidade dos discos anteriores, mas adquiriram também um aspecto mais comercial.
É um caso raro de disco de metal que tem capacidade de agradar tanto a fãs do "gueto" quanto a ouvidos pouco acostumados com este gênero. A banda nunca mais conseguiu criar este mesmo efeito em um disco inteiro.
Duas baladas potentes e épicas fizeram o Metallica entrar nas FMs. São elas "The Unforgiven" e "Nothing Else Matters", canções de instrumental refinado, como se fossem o vitorioso ponto de chegada de um caminho experimentado em canções de discos anteriores, como "Welcome Home (Sanitarium)" e "Fade to Black". Por causa das baladas deste álbum preto é possível que seu pai e sua avó tenham ouvido falar do Metallica. Canções singelas que se transformam em pedradas são uma das qualidades desta banda.
Destaco outra duas canções deste disco que também foram sucesso nas rádios rock da época. São elas "Sad But True" e "Enter Sandman". Aqui o bicho pega! É peso do início ao fim, belos exemplos do poder do heavy metal. A pirotecnia de "Enter Sandman" é tradicional nos shows do Metallica até hoje. A letra falando de pesadelos e dragões de fogo que vão te pegar fica ainda mais divertida com o vocal alucinado e paranoico de James Hetfield. Clássico. É uma música calculada para incendiar estádios e grandes arenas.
A diferença para o que banda fazia até então é que trocaram as palhetadas thrash em alta velocidade por uma base mais cadenciada, mas cheia de feeling. Acredito na competência de uma banda de metal quando conseguem fazer uma música lenta porém pesada como uma cachalote. Irresistível. O disco tem mais exemplos desta fórmula, como "Don't Tread On Me" e "The God That Failed".
Este discos tem ainda vários outros aspectos como a introspecção das letras de Hetfield, o conturbado processo de gravação e a polêmica que resiste até hoje. O álbum preto é meio que um divisor entre os fãs da fase antiga do Metallica e os que gostam do material lançado daí em diante.
Por fim, ao lado do álbum branco dos Beatles, este álbum preto do Metallica forma a dupla monocromática que está na coleção de quem gosta de rock. Uma metade é pureza e contemplação. O lado negro é peso e paulada.
A série sobre 1991 segue com discos clássicos de Nirvana, Ozzy Osbourne e Red Hot Chili Peppers lançados naquele ano. Até lá!
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Popnejo
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
O Rei desce
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Kings of Leon e o pacote da vida de rockstar
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Nasce uma lenda
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Sobre matrículas e filas
Editorial da revista Saber nº4 (Faculdade Prudente de Moraes)
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Uma das grandes bandeiras da propaganda governamental no final da gestão de Fernando Henrique Cardoso na presidência da República foi a inclusão de crianças na escola. Dizia-se que o Brasil havia praticamente erradicado a evasão escolar, que não havia crianças longe dos estudos e a eliminação do analfabetismo no país estava garantida.
No governo Lula também ganharam destaque as políticas de inclusão no ensino, sobretudo no ensino superior. O sistema de cotas para negros – polêmicas a parte – e o ProUni são ferramentas que trazem cada vez mais alunos às universidade. Isso, associado ao fenômeno da tão falada e emergente classe C corrobora a tese do petista de que o país nunca teve tanta gente no ensino superior.
De fato, cresce a olhos vistos o número de faculdades e de cursos de graduação a preços cada vez mais acessíveis. A grande questão é discernir até que ponto é benéfica esta inclusão de massa e se isso realmente reflete um progresso.
Se por um lado, generalizando, nossas crianças entram cedo na escola e conseguem seu diploma de ensino superior, por outro o setor privado reclama sempre do mesmo problema: falta mão de obra qualificada. Os índices internacionais de medição da qualidade da educação nos tiram da euforia desenvolvimentista e nos forçam a encarar uma realidade inconciliável com o papel de protagonista que o Brasil quer tomar: ainda somos uma nação de Terceiro Mundo no quesito educação.
Base para o desenvolvimento do país, o Brasil parece ter tomado caminhos desarmônicos para conseguir seu salto de qualidade nesta área. Não basta abrir as portas de escolas e faculdades se é baixa a qualidade da aula, se o professor não está preparado e não é valorizado. É verdade que temos universidades públicas de ponta, mas trata-se de uma elite abismalmente distante do grosso das instituições de ensino no país.
Não é novidade que o problema começa cedo. Os professores de ensino básico são mal preparados e mal pagos. Muitas vezes não dominam o conteúdo da matéria pela qual são responsáveis de ensinar. O aluno também se desmotiva, diante de um conteúdo programático caduco, um método pedagógico distante da realidade digital e interativa a que está acostumado e falta de estrutura física nas escolas. O resultado é indisciplina, falta de interesse e consequente mal resultado nas notas.
Enquanto for dada a ênfase no aluno, de nada adiantará. É preciso olhar para o outro lado do tabuleiro e investir na qualidade do professor – e na estrutura das escolas, no conteúdo do ensino – para que valha a pena que mais gente frequente os bancos escolares, em todos os níveis.
Caso contrário, a quantidade de alunos que cada vez mais entram nas escolas e faculdades continuará a ser proporcionalmente igual ao tamanho da fila de desempregados.
quarta-feira, 6 de abril de 2011
A lâmpada e o telefone
domingo, 27 de março de 2011
B de Brics, B de bão
A arara azul e Hollywood
Em meio a novas posições brasileiras a respeito do Irã, abstenção em combater Gaddafi (concordando com os outros Brics) e ainda discutindo a recente visita de Obama (o que diabos quer dizer esse "apreço"?) chega aos cinemas a animação em 3-D "Rio" que traz o Brasil aos holofotes enxergado com os óculos de Hollywood.
Ainda não assisti ao filme, mas pelo que fiquei sabendo, temos muito do velho clichê de país tropical, em que pessoas sambam enlouquecidas pelas ruas acompanhadas de araras e distribuindo macacos pro Stallone. Ok, ok, a natureza brasileira é realmente maravilhosa e única, mas poxa vida, essa brasilidade de exportação não é vivida por todo habitante canarinho.
Muitos brasileiros podem passar a vida inteira sem topar com um índio e com certeza os postes não são poleiros para papagaios e araras. Insistem em retratar nosso país de uma maneira distorcida, exagerada. Olha, adoro um pão de queijo, pé de moleque e acarajé. Mas o acarajé que eu como é vendido por uma senhora negra numa saia armada branca. Ela se folcloriza para vender o acarajé pra mim. Não é uma coisa que se integrou no meu cotidiano de paulista do interior, saca? É diferente do pão de queijo que está presente até no boteco chinês mais obscuro.
O caso é que a sociedade brasileira é essencialmente urbana, pasteurizada. São heróis os que preservam a cultura brasileira. O samba é popular por aqui? É sim. Mas o samba se fundiu à música pop, numa alquimia muito peculiar. A Garota de Ipanema é folclore para as massas. Inimigos da HP é entretenimento de verdade. A distância é quilométrica, mas é o máximo de verdade que podemos dar sobre o quanto o brasileiro de hoje gosta de samba.
Quer um exemplo de uma coisa que coincide com a imagem do Brasil lá fora e a relidade? A paixão pelo futebol. Isso é genoíno. De cada dez brasileiros, pelo menos uns 8 são fanáticos por um time. Ou pelo menos torcem de leve. Se o comportamento extremo diz algo sobre uma sociedade, no Brasil não temos conflitos por religião, mas briga de torcedores rivais mata.
quarta-feira, 23 de março de 2011
Uma chance para os clássicos
"Fascinado, o garoto corria nos corredores entre os stands. Gritava, pulava e ofegava quando, maravilhado, percebeu um dos que estava procurando. Exibido em um suporte na frente do stand da editora, estava um reluzente exemplar da compilação de crônicas de Carlos Drummond de Andrade. O moleque catou o catatau e não largou mais. Era seu presente de aniversário. Não queria iPhone, Xbox, iPad ou outro demônio eletrônico. Sua imaginação incendiava só pensando em abrir o livro que tinha nas mãos. Era seu universo portátil. Era um teletransporte instantâneo. Sua nave secreta. Um guarda-roupa de fantasias. A lupa para espiar a vida dos outros, vestir sua carne, usar seus óculos."
Click. Desliga.
De volta à realidade, não é esse o sonho de consumo do jovem brasileiro médio. Mas parece que para quem cuida do conteúdo das escolas, parece razoável que garotos de 15 a 17 anos tenham afinidade com os clássicos da literatura nacional. Ah sim, porque nos vestibulares das principais faculdades públicas brasileiras é recomendada a leitura simultânea de obras imortais. Assim, "Memórias de Um Sargento de Milícias", "O Guarani", "Senhora", "Quincas Borba" e tantos outros caem de paraquedas na vida do adolescente brasileiro.
A questão é: autores clássicos e de irrefutável importância e qualidade são lidos com desânimo e contrariaedade pela molecada. A grande maioria não está preparada para eles. Simplesmente não estão a fim. Não é culpa da juventude pois tudo tem seu tempo. Estão enfiando estas grandes mentes da literatura goela abaixo dos estudantes quando ainda não foram despertados para o prazer da leitura. Ou não para a leitura do século XIX, para a leitura que pede óculos da época. Para gostá-los e entendê-los é preciso antes de tudo. querer lê-los.
Esta sempre foi uma questão que merecia discussão, mas agora que temos crianças e adolescentes que passam cada vez mais tempo na internet, é vital discutir como fazer a iniciação deles na literatura. Se já parece estranho ler um jornal de papel, que dirá livros de 200 anos?
Se acostumando a consumir informação pela internet, a leitura se torna cada vez mais sucinta, até superficial. Aí está o Twitter e seus 140 caracteres. Na internet a informação é devorada rapidamente e o apelo visual é muito forte. Fotos, animações e vídeos o tempo todo. Como lidar com esta sede de pirotecnia?
É preciso parar com essa idéia de iniciar os novos direto com os clássicos. É preciso uma leitura mais amena, com um texto mais leve, sem deixar a qualidade do conteúdo de lado, é claro. E o Brasil conta com escritores excelentes nesta área. Por que não começar pela crônica? Temos Luís Fernando Veríssimo, Mário Prata, Moacyr Scliar e tantos outros que são ótimos ritos de passagem para a terra das letras.
Afinal, depois que a onda do vestibular passa e a geração cresce, têm arrepios em topar com esses Machados de Assis e Gracilianos Ramos da vida. Criam um "trauma" com a literatura e preferem passar longe dos livros. Assim, perde-se mais uma geração de leitores. E esta conta vai aumentando em escala geométrica a cada nova turma que deixa as carteiras escolares, ano após ano.
Não podemos esquecer que literatura também é entretenimento e entretém aquilo que é agradável, o que temos afinidade. Vamos dar uma chance para que a meninada goste dos clássicos no momento certo.
segunda-feira, 21 de março de 2011
Perdemos pro Gaddafi
A visita estava marcada há meses mas os eventos na Líbia e o terremoto no Japão roubaram a atenção do Brasil e deixaram a missão diplomática fora de contexto, de certo modo. Fossem os EUA um jornal, a visita ao Brasil seria derrubada para Obama cobrir a guerra na Líbia, um factual. Obama pode não ser um correspondente de guerra à mercê de Gaddafi, mas foi criticado por dar a impressão de passear ao sol de Ipanema enquanto seu país comprava a terceira guerra simultânea.
Pobre Brasil. Teve os holofotes do mundo roubados no momento de desabrochar como a potência tropical, o oásis em que belezas naturais, povo alegre e êxito econômico fazem nossa nação virar o próprio Éden na terra. Perdemos a chance de sermos abençoados pelo messias de nosso tempo como o exemplo acabado de democracia renascida que de peito e sorriso aberto abraça o mundo. Nossa linda e potente democracia não foi páreo para as vestes psicodélicas de Gaddafi e sua ditadura de 40 anos.
Acho que Renato Russo tem razão:
"Quantas chances disperdicei/ quando o que eu mais queria/ era provar pra todo mundo/ que eu não precisava provar nada pra ninguém."