segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Dilma empresta a vassoura de Jânio


Há 50 anos, Jânio Quadros renunciava ao cargo de presidente da República. Eleito com o jingle do "varre, varre vassourinha", ele prometia moralizar a República, limpando-a dos corruptos. No fim das contas, Jânio acabou varrendo si mesmo da Presidência. Por ironia, meio século depois do episódio que desencadeou uma instabilidade política que acabaria por resultar na ditadura militar, o Brasil se depara com outro tipo de "faxina" protagonizada pelo chefe da nação.

Com quatro ministros derrubados desde o início do ano e uma série de demissões na cúpula do Ministério dos Transportes, a presidente Dilma Roussef desponta para parte da opinião pública como um sopro da tão esperada reforma anti-corrupção no governo. Cabe aqui alguma reflexão. À excessão de Nelson Jobim, que caiu sozinho de tantas críticas que fez ao governo, os demais ministros só foram limados depois de denúncias que partiram da imprensa, ou de órgãos de investigação do governo. A tal faxina é mais um ato reflexivo do que de iniciativa. As irregularidades vêm a público, a situação fica insustentável, corta-se.

Contudo, há aqui alguma diferença em relação ao governo anterior. Lula minimizava, esbravejava contra a imprensa e usava seu colchão de popularidade para amortecer as repercussões negativas. A necessidade de garantir a "governabilidade" era o combustível da tolerância à corrupção. Aos trancos, a estratégia deu certo. Lula sobreviveu até ao mensalão.

Voltando a Jânio Quadros, o ex-presidente, ainda então candidato, puxava para si a responsabildiade de limpar a Esplanada dos maus políticos e administradores. No momento, é Dilma que é taxada de "faxineira" pela opinião pública. Para ela, tanto melhor.

Para nós, fica o sentimento de que pode ser a deixa para uma mobilização maior da sociedade. A Primavera Árabe e os protestos na Índia, que pedem exatamente mais moralidade no governo deveriam nos inspirar para ir às ruas e exigir com mais vontade um basta à corrupção. Afinal, vivemos uma certa "febre" de marchas temáticas nas grandes cidades. Uma grande e bem organizada Marcha Contra a Corrupção seria pertinente agora.

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