sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Chaves é um mistério


Chaves é um mistério.
É um negócio dos anos 70, a imagem é escura, os efeitos sonoros são estranhos, é mexicano, subdesenvolvido. Os atores são velhos, feios. Tem homem de meia idade já barrigudo e velho vestido de criança. Se você olha bem de perto, parece quase um freak show.

Chaves é um mistério ainda mais perturbador porque está no ar há uns 30 anos e é até hoje uma das maiores audiências do SBT.

Mais estranho e doido é encontrar na rua a molecada com suas camisetas do seu Madruga e do Chapolin.

Chaves venceu. Atravessou o tempo e com piadas sobre sanduíches de presunto, churros e suco de tamarindo (que parece de limão) conquistou o coração da criançada.

A indústria do entretenimento infantil se desenvolveu, tendências de desenho animado surgiram e desapareceram. A internet chegou. Efeitos especiais com explosões pipocam em todos os canais, mas nenhum mostra como é a bola quadrada do Quico, que só existe na imaginação das crianças.

Quando eu era uma delas, foi em Chaves que vi algo mais próximo do Brasil entre as atrações para a minha idade. Era ali que via crianças brincando como brasileiras, por mais que fossem atores mexicanos batendo quase 40 anos em cena, num troço que foi gravado uns 20 anos antes. Me tocava com mais apelo do que muitas produções nacionais.

Quem assiste Chaves com o olhar adulto pode perceber a carga de melancolia, de um sentimento frio que é transformado em ternura. É a vida do menino pobre que não tem o que comer, nem quem olhe por ele. A tristeza estava embutida no olhar de Roberto Bolaños.

Ele foi embora como um dos muito poucos que conseguiram construir um sólido elo cultural por toda a América Latina. Conseguiu até pular o muro que nos separa dos hermanos e ganhou o coração do Brasil.

O segredo do sucesso? A chave do mistério? Estava no fundo daquele barril.

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