O funk é um fato.
Está por toda parte. Na TV, na internet, no rádio.
Celulares a todo volume não deixam passageiros de ônibus nem pedestres em paz –
sempre tem uma menina ou um moleque ostentando a potência da batida.
Anitta, Valesca Popozuda e MC Guimê são os atuais destaques
de uma linhagem que tem Naldo, Tati Quebra-Barraco e Bonde do Tigrão entre os
nomes que vêm e vão entre um verão e outro.
O funk tem veneno para todo tipo de paladar. Há letras
sobre armas e crime. Outras muitas sobre sexo. Muito sexo. Outros cantam sobre
a ostentação de carros, motos, bebida e dinheiro. Há quem veja o funk como o
canal para celebrar o “eu” em detrimento de todos ao redor. É a lógica do
“desejo a todas inimigas vida longa”. Por fim, há quem consiga enquadrar as
batidas na celebração de um dia de sol e algum romance.
Os funkeiros que conseguem conjugar visibilidade com uma
mensagem palatável têm mais chance de conquistar espaço nos veículos de
comunicação.
É o que aconteceu com MC Guimê. Ídolo da periferia,
ostentou milhões de visualizações no YouTube até ser pescado para a TV.
Puxando pela memória, e considerando só os produtos da
Globo, me lembro que recentemente Guimê foi repórter por um dia no Fantástico,
foi entrevistado pelo histórico Mário Sérgio Conti na Globo News, foi o
“anfitrião” da cidade de São Paulo para dar dicas de passeios aos turistas que
virão para a Copa numa série especial do G1. Cereja do bolo: gravou a música de
abertura da atual novela das 7. (Não por coincidência, “Geração Brasil”).
Não são poucos os que se incomodam um tipo de música
considerada sem qualidade. O debate é bom.
Penso que, se o funk é uma droga, o problema não é
substância e sim a dose. Comer um lanche no Mc Donalds é bom. Fazer todas as
refeições ali é judiar do corpo e entupir as artérias. O mesmo vale para o funk
– sertanejo, pagode, axé, também estou falando com vocês.
Acredito que quanto mais estilos musicais, melhor. Seja
ele do nível que for, da celebração da bunda ou da batata.
O problema é se cara ouve SÓ isso. Se a pessoa só escuta
funk, não tem interesse em conhecer outros estilos ou em canções que a faça
pensar. O problema é o cara viver esse estilo de vida da zueira, da roupa que
vale mais que tudo, da festa que vale mais que o estudo – do eu que vale mais
que o outro.
O que não pode é o cara sair por aí com seu celular no
último para todo mundo ouvir, sonhando em ter seu carro para ligar o som no
último para mais gente ainda ouvir.
É esse comportamento, meu amigo, que me incomoda.
Sim, porque acredito que o problema não é a música. Tudo
tem sua hora. Se eu estiver numa festa e dependendo do humor (e da cerveja)
rolar um pagodinho, um funk ou o arrocha que seja, também vou curtir. Num
domingo quente de praia não dá pra tocar Milton Nascimento, por exemplo.
O bom humor e o calor humano brasileiros são o nosso
diferencial perante outras nações. Mas não podemos deixar a malemolência e o
ziriguidum nos derrubarem.
O excesso de junk food musical também é estimulado pela
mídia, sem dúvida. Mergulhada numa crise que parece mortal, a indústria
fonográfica aposta todas as esperanças no que der o retorno mais imediato.
Dá-lhe beijinho no ombro, o sertanejo mais debilóide, o pagode mais boca
aberta, a balada rock mais picareta... Isso alimenta o que vemos na TV, ouvimos
no rádio, repercutimos nas redes sociais. Não há a menor chance ao artista com
uma proposta mais inteligente ter espaço junto ao grande público.
Ouvir um estilo não significa anular outro. Se a TV e o
rádio tomaram suas decisões, a internet está aqui. Conhecer o que já foi feito
na música e o que está acontecendo de novo é uma jornada que não tem fim. Não
se trata de discutir sobre qualidade da canção – mas da curiosidade musical e
da educação de quem ouve.
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