terça-feira, 10 de junho de 2014

A culpa não é do hamburguer. É do gordo


O funk é um fato.

Está por toda parte. Na TV, na internet, no rádio. Celulares a todo volume não deixam passageiros de ônibus nem pedestres em paz – sempre tem uma menina ou um moleque ostentando a potência da batida.

Anitta, Valesca Popozuda e MC Guimê são os atuais destaques de uma linhagem que tem Naldo, Tati Quebra-Barraco e Bonde do Tigrão entre os nomes que vêm e vão entre um verão e outro.

O funk tem veneno para todo tipo de paladar. Há letras sobre armas e crime. Outras muitas sobre sexo. Muito sexo. Outros cantam sobre a ostentação de carros, motos, bebida e dinheiro. Há quem veja o funk como o canal para celebrar o “eu” em detrimento de todos ao redor. É a lógica do “desejo a todas inimigas vida longa”. Por fim, há quem consiga enquadrar as batidas na celebração de um dia de sol e algum romance.

Os funkeiros que conseguem conjugar visibilidade com uma mensagem palatável têm mais chance de conquistar espaço nos veículos de comunicação.

É o que aconteceu com MC Guimê. Ídolo da periferia, ostentou milhões de visualizações no YouTube até ser pescado para a TV.

Puxando pela memória, e considerando só os produtos da Globo, me lembro que recentemente Guimê foi repórter por um dia no Fantástico, foi entrevistado pelo histórico  Mário Sérgio Conti na Globo News, foi o “anfitrião” da cidade de São Paulo para dar dicas de passeios aos turistas que virão para a Copa numa série especial do G1. Cereja do bolo: gravou a música de abertura da atual novela das 7. (Não por coincidência, “Geração Brasil”).

Não são poucos os que se incomodam um tipo de música considerada sem qualidade. O debate é bom.

Penso que, se o funk é uma droga, o problema não é substância e sim a dose. Comer um lanche no Mc Donalds é bom. Fazer todas as refeições ali é judiar do corpo e entupir as artérias. O mesmo vale para o funk – sertanejo, pagode, axé, também estou falando com vocês.

Acredito que quanto mais estilos musicais, melhor. Seja ele do nível que for, da celebração da bunda ou da batata.

O problema é se cara ouve SÓ isso. Se a pessoa só escuta funk, não tem interesse em conhecer outros estilos ou em canções que a faça pensar. O problema é o cara viver esse estilo de vida da zueira, da roupa que vale mais que tudo, da festa que vale mais que o estudo – do eu que vale mais que o outro.

O que não pode é o cara sair por aí com seu celular no último para todo mundo ouvir, sonhando em ter seu carro para ligar o som no último para mais gente ainda ouvir.

É esse comportamento, meu amigo, que me incomoda.

Sim, porque acredito que o problema não é a música. Tudo tem sua hora. Se eu estiver numa festa e dependendo do humor (e da cerveja) rolar um pagodinho, um funk ou o arrocha que seja, também vou curtir. Num domingo quente de praia não dá pra tocar Milton Nascimento, por exemplo.

O bom humor e o calor humano brasileiros são o nosso diferencial perante outras nações. Mas não podemos deixar a malemolência e o ziriguidum nos derrubarem.

O excesso de junk food musical também é estimulado pela mídia, sem dúvida. Mergulhada numa crise que parece mortal, a indústria fonográfica aposta todas as esperanças no que der o retorno mais imediato. Dá-lhe beijinho no ombro, o sertanejo mais debilóide, o pagode mais boca aberta, a balada rock mais picareta... Isso alimenta o que vemos na TV, ouvimos no rádio, repercutimos nas redes sociais. Não há a menor chance ao artista com uma proposta mais inteligente ter espaço junto ao grande público.

Ouvir um estilo não significa anular outro. Se a TV e o rádio tomaram suas decisões, a internet está aqui. Conhecer o que já foi feito na música e o que está acontecendo de novo é uma jornada que não tem fim. Não se trata de discutir sobre qualidade da canção – mas da curiosidade musical e da educação de quem ouve.

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