quinta-feira, 17 de abril de 2014

Letras tristes





Hoje morreu Gabriel Garcia Márquez. Uma perda terrível para a literatura contemporânea. Fico pensando que foi a morte mais sentida depois da ida de José Saramago.


Garcia Márquez é muito querido por uma geração um pouco anterior à minha. Li Cem Anos de Solidão e a saga da família Buendía, mas faz tanto tempo... me lembro que o clima era envolvente e que o sofrimento percorria o livro em cenas tocantes, como a da jovem prostituta que - além de ter o corpo coberto de queimaduras - precisava torcer o suor dos lençóis antes de receber mais um cliente.

Contudo, o livro de Gabo que mais me marcou foi "Relato de Um Náufrago". A obra não é ficção e sim um relato colhido de uma história real do tempo em que Márquez era repórter.

Conta a história de um jovem militar que estava a bordo de um destróier nos Estados Unidos, mas que acabou afundando no Mar do Caribe. Único sobrevivente, ele ficou dias à deriva em uma balsa inflável, mastigando cartões de papelão, cadarços e tentando pescar peixes com as mãos. Estava rodeado de tubarões o tempo todo.

A certa altura, consegue pegar uma gaivota com as mãos fingindo-se de morto. Ele fez tanta força para quebrar o pescoço do bicho que quase arrancou a cabeça. Lembro da descrição da facilidade para desmembrar a ave, que era assustadoramente frágil. Mesmo desesperado de fome, o náufrago não conseguia comer aquela maçaroca de carne e sangue. Enojado, arremessou aos tubarões.

Foi meu pai que me recomendou esse livro, o que o torna mais especial para mim. Foi a partir dele que tomei gosto por histórias de náufragos e também sobre escritores latino-americanos. De certa forma, Garcia Márquez me levou a Mario Vargas Llosa, de quem gosto demais.

É triste a perda de uma grande artista como Gabo e mais triste ainda se questionar: quantos mais vão nos fazer tanta falta quanto ele?


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