quarta-feira, 23 de março de 2011

Uma chance para os clássicos

"Fascinado, o garoto corria nos corredores entre os stands. Gritava, pulava e ofegava quando, maravilhado, percebeu um dos que estava procurando. Exibido em um suporte na frente do stand da editora, estava um reluzente exemplar da compilação de crônicas de Carlos Drummond de Andrade. O moleque catou o catatau e não largou mais. Era seu presente de aniversário. Não queria iPhone, Xbox, iPad ou outro demônio eletrônico. Sua imaginação incendiava só pensando em abrir o livro que tinha nas mãos. Era seu universo portátil. Era um teletransporte instantâneo. Sua nave secreta. Um guarda-roupa de fantasias. A lupa para espiar a vida dos outros, vestir sua carne, usar seus óculos."

Click. Desliga.

De volta à realidade, não é esse o sonho de consumo do jovem brasileiro médio. Mas parece que para quem cuida do conteúdo das escolas, parece razoável que garotos de 15 a 17 anos tenham afinidade com os clássicos da literatura nacional. Ah sim, porque nos vestibulares das principais faculdades públicas brasileiras é recomendada a leitura simultânea de obras imortais. Assim, "Memórias de Um Sargento de Milícias", "O Guarani", "Senhora", "Quincas Borba" e tantos outros caem de paraquedas na vida do adolescente brasileiro.

A questão é: autores clássicos e de irrefutável importância e qualidade são lidos com desânimo e contrariaedade pela molecada. A grande maioria não está preparada para eles. Simplesmente não estão a fim. Não é culpa da juventude pois tudo tem seu tempo. Estão enfiando estas grandes mentes da literatura goela abaixo dos estudantes quando ainda não foram despertados para o prazer da leitura. Ou não para a leitura do século XIX, para a leitura que pede óculos da época. Para gostá-los e entendê-los é preciso antes de tudo. querer lê-los.

Esta sempre foi uma questão que merecia discussão, mas agora que temos crianças e adolescentes que passam cada vez mais tempo na internet, é vital discutir como fazer a iniciação deles na literatura. Se já parece estranho ler um jornal de papel, que dirá livros de 200 anos?

Se acostumando a consumir informação pela internet, a leitura se torna cada vez mais sucinta, até superficial. Aí está o Twitter e seus 140 caracteres. Na internet a informação é devorada rapidamente e o apelo visual é muito forte. Fotos, animações e vídeos o tempo todo. Como lidar com esta sede de pirotecnia?

É preciso parar com essa idéia de iniciar os novos direto com os clássicos. É preciso uma leitura mais amena, com um texto mais leve, sem deixar a qualidade do conteúdo de lado, é claro. E o Brasil conta com escritores excelentes nesta área. Por que não começar pela crônica? Temos Luís Fernando Veríssimo, Mário Prata, Moacyr Scliar e tantos outros que são ótimos ritos de passagem para a terra das letras.

Afinal, depois que a onda do vestibular passa e a geração cresce, têm arrepios em topar com esses Machados de Assis e Gracilianos Ramos da vida. Criam um "trauma" com a literatura e preferem passar longe dos livros. Assim, perde-se mais uma geração de leitores. E esta conta vai aumentando em escala geométrica a cada nova turma que deixa as carteiras escolares, ano após ano.

Não podemos esquecer que literatura também é entretenimento e entretém aquilo que é agradável, o que temos afinidade. Vamos dar uma chance para que a meninada goste dos clássicos no momento certo.

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