terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O pedinte rodoviário

Tem uma coisa que eu costumo fazer todos os dias: frequentar rodoviárias. Não raro, passo por rodoviárias de duas, três, até quatro cidades em um dia. É essa vida cigana. E isso me faz conviver com um tipo muito comum das rodoviárias de Brasil afora, o pedinte.

Temos pedintes tortos, trêmulos e fedendo a bebida. Estes não convencem. Agora, o que intriga são os que trazem bilhetinhos, contam uma história. Isso me faz pensar um pouco. Quem nunca topou com um sujeito que te dá um papelzinho amassado escrito "sou surdo-mudo, preciso de 50 centavos para comprar feijão e leite para as crianças, Deus te abençoe". Isso me põe em dúvida. Olho pro cara, pode ser um garoto, uma moça, um senhor de meia idade. Muitos parecem ter a mesma ideia. Não estão esfarrapados. Usam sapatos. Que diabos, tome meus 85 centavos.

Ontem um rapaz me estendeu uma prancheta. Tinha um papel impresso com o cabeçalho da "Associação Brasileira de Surdos-mudos". Haviam feito até um logo para a entidade, no lado superior esquerdo. No alto do papel estava escrito "Campanha de Arrecadação de Donativos - colabore com 1 ou 2 reais para continuarmos atendendo quem precisa. Deus lhe abençoe". Na sequência havia uma lista em branco com campo para assinatura do doador e valor doado.

Mas caramba! Agora estipulam o valor a ser doado? Não posso mais esvaziar a carteira de moedas? Tem que ser 1 ou 2 reais? Bom, 1 real faz diferença pra mim. Assinei meu nome (eu era um dos últimos da página, que estava quase cheia), estendi meu catado de moedas de 5 centavos e marquei no campo doação "0,70". Para ajudar os surdos-mudos. Ou tome pela criatividade, vá saber.

Um espertalhão com cara de coitado melhora seu truque até na chegar numa prancheta apresentável. Uma associação simples mas limpinha passaria o chapéu em lugares populares e com alta circulação de gente. Uma rodoviária, por exemplo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário