“A rodada tinha tudo para ser perfeita para o São Paulo.
Meu domingo acabou depois do pênalti. Era melhor que o juiz nem tivesse marcado
nada”. Após ler o comentário do torcedor, o radialista do programa pós-jogo
tenta tirar por menos. “Pô, não fica assim não, Douglas. Não acabou o domingo não,
curte o domingo. Isso é... Futebol”.
Talvez o locutor quisesse dizer que isso é “diversão”, é “entretenimento”.
“Ô Douglas, fica assim não que isso ai é só brincadeira”. O problema é que assim
ele falaria como aqueles que dizem “o time ganhando ou perdendo eu não vou
ficar mais rico nem mais pobre. No dia seguinte tem que trabalhar e os caras lá
continuam tudo milionário”. Esse pessoal não entende quando a explicação é que
isso é... Futebol.
Mais do que esporte. Mais do que um programa na TV. Maior
que...
Para você entender, vou tricotar aqui uma teoria de fim
de domingo. Se o comportamento extremo de uma sociedade diz algo sobre ela, no
Brasil temos a seguinte situação: aqui ninguém mata ninguém por causa de
religião, mas tem gente que morre por causa do futebol.
Nas cadeiras vermelhas do Morumbi o “Show do Intervalo”
foi dos melhores momentos da borracha militar castigando a carne de gente que
adora uma confusão. Estão dizendo que os torcedores do São Paulo queriam vencer
a barreira para chegar à torcida do Corinthians – e não era para dar os
parabéns pelas defesas do Cássio.
Futebol faz o são-paulino Douglas perder o domingo porque
uma bola de borracha não passou entre dois postes separados por 7,32 metros.
Futebol fez outros tantos são-paulinos enfrentarem a fúria da borracha da polícia.
É também o futebol o responsável por este corintiano se sentir um pouco mais
rico.