Não vi o fim da MTV. Assim como não vi o início da MTV.
Nem o meio. Muito menos seu auge ou sua decadência. Porém, a MTV morreu e estou
morrendo de saudade dela.
Pra muita gente assistir à MTV na infância ou adolescência
era tão fácil quanto abrir a torneira mas pra mim era um sonho. Se em São Paulo
o canal tinha sinal aberto, na minha casa, não. Nunca soube direito se São José
dos Campos recebia o sinal da MTV mas posso garantir que na Vila Nova Cristina,
numa casa de número 163, não.
Foram raras as vezes em que consegui assistir a alguns
clipes ou ver um programa inteiro. Eu dependia de visitas à casa do meu avô,
que era o único que tinha TV por assinatura, que custava uma fortuna. Era um
copo de coca e uma tapa na minha irmã, que queria ver Cartoon Network. Tempos
difíceis.
Imaginava em casa um canal que só passava rock e isso me
fascinava. Na escola amigos imitavam o Marcos Mion e falavam sobre o
Covernation. Aquelas vinhetas e a linguagem totalmente diferente dos outros
canais me deixava louco... e frustrado. This is not for me, baby.
Fui crescendo e acompanhando de longe a decadência do
canal. Não falavam mais da MTV. Alguma coisa ou outra sobre programa de humor,
de comédia. Ué, mas o lance ali não era música?
Há pouquíssimo tempo finalmente me tornei espectador da
MTV. Percebi o que aconteceu. Cadê a música, meu Deus? Os melhores horários da
MTV eram de madrugada ou no início da manhã, quando reprisavam clipes clássicos.
O resto, sinceramente, não descia. (O único programa de humor que gostei foi o
jurássico Rock & Gol).
Talvez a decadência da MTV reflita a decadência da música
pop brasileira, do rock brasileiro. Porém, bandas boas e novas ainda existem,
só que o canal era mais um apaixonado por essa galera que faz uma MPB
melancólica, pretensiosa e modorrenta e todos engolem que isso é rock.
Li em algum lugar que o pecado da MTV foi se voltar ao
público adolescente de hoje e dar as costas para o espectador crescido, mas que
ainda se interessa por música. Era triste ver que pílulas de 1 minuto durante
os comerciais era o máximo de debate e opinião sobre música apresentado atualmente ali.
Talvez a molecada de hoje preferiu assistir Porta dos
Fundos no computador enquanto conversa
com alguém pelo Facebook e quem queria conhecer mais sobre música encontrou no
Youtube o que a MTV há muito deixou de mostrar.
Bom, o que sobrou pra mim, uma criatura que ainda se importa com a TV? O canal BIS tem se mostrado um alento, com seus documentários gringos e nacionais sobre – graças a Deus – rock. Tem também muitos shows e clipes de novidades da música, onde percebo que a chatice e o bocejo ainda são hegemônicos. Talvez a culpa não seja da MTV, afinal.