domingo, 18 de setembro de 2011

Tempo

Envolvente, silencioso, constante, impiedoso
A árvore que seca, o primeiro dente a cair, a fruta amadureceu, já é hora de partir
O livro que amarela, as páginas amarelas - da revista nacional, da lista telefônica
O telefone preto, o tijolo falante
Agora é peça de museu
O tempo embrulha, amarra e solta
Se sobrevive, ganha nova vida
Vira quase arte, num outro nível
O papel vira vira aço
O barro é de concreto
A tinta é tatuagem
O ancião vira entidade
Se passou no teste do tempo
Emerge e ganha a eternidade

domingo, 11 de setembro de 2011

A pátria nas ruas

Famílias inteiras reunidas, bandeirinhas coloridas, faixas com mensagens sinceras, gritos de incentivo, o coração falando alto. Um desejo único, milhares compartilhando do mesmo sentimento. Sensação de que tudo ao redor está vivo e de que o mundo se move na mesma vontade. Uma nação inteira movida pela identificação de que o próximo é um igual.

O último 7 de setembro foi assim, mas não durante os desfiles cívicos da Independência nem durante as marchas contra a corrupção. O único evento que mobilizou as massas e tocou o coração de milhares foi o jogo número 1000 de Rogério Ceni com a camisa do São Paulo. Foi mais do que irônico ver o Morumbi lotado e a paisagem viva de 60 mil pessoas vibrando na adoração ao seu ídolo. Enquanto isso centenas de gatos pingados erguiam seus cartazes contra os políticos corruptos – a despeito da confirmação virtual da participação de milhares nos protestos.

Por que o brasileiro não se mobiliza com força para protestar contra a política? Acredito que dentre os vários fatores está a falta de uma bandeira bem definida para erguer. Todos sabemos que os serviços públicos são ruins e que os políticos enriquecem indevidamente, mas esse sentimento geral mais parece uma grande nuvem que não consegue se materializar com força para que se torne num alvo concreto a ser combatido. Ou num objetivo a ser alcançado.

Além da força da imagem das multidões nas ruas gritando por um objetivo é preciso que este movimento tenha ação pragmática; é preciso que tenha uma proposta.

Já foi dito que a proliferação impressionante de escândalos de corrupção desanime o cidadão a acompanhar com atenção os acontecimentos políticos do país e esta vigilância frouxa seja um dos principais fatores para a apatia geral diante de tanta coisa errada.

Para conseguir um a mobilização forte e envolvente – assim como as torcidas dos estádios de futebol – acredito que é preciso defender uma causa concreta. Propostas não faltam: é preciso reduzir o número de ministérios, acabar com as votações secretas no Congresso e reduzir os bônus salariais dos parlamentares por exemplo.

É preciso um movimento forte que atue tanto na rua quanto nos dispositivos que permitem que as demandas dos cidadãos se realizem.