quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Show de rock ao vivo no cinema: algumas ideias

Enquanto escrevo estas linhas, algumas milhares de pessoas se preparam ansiosas para ir ao cinema. Ou melhor, para ir a um show. Sendo mais claro: para assistir a um show de rock no cinema. Isso porque o Red Hot Chili Peppers faz hoje seu show oficial de lançamento do novo disco “I’m With You”, que será transmitido ao vivo para cinemas de todo o planeta, no Brasil inclusive. Trata-se de uma nova estratégia da indústria da música para seduzir o fã e se adaptar nestes tempos de vazamentos de discos e pirataria.

A transmissão de shows pela internet já nem é tão novidade. O Youtube – pra citar o maior dos sites de compartilhamento – faz isso com frequência, inclusive com artistas brasileiros. Filmes e documentários sobre bandas em cima do palco também são mais que tradicionais – incluindo com parcerias de grife, como o filme de Martin Scorcese sobre os Rolling Stones chamado “Shine a Light”.

O que me intriga nesse modelo proposto pelo Red Hot é que ele pode ser o início de um novo tipo de evento para a música. Pense bem, os fãs esperam desde 2006 por um novo disco da banda e vão assistir à explosão sonora e colorida do funk californiano sentadinhos nas poltronas da sala escura. Imagine quantos não queriam estar de pé, com sua cerveja na mão, pulando e pirando em “Give It Way”?

Acho que esse esquema do lançamento oficial do disco com show transmitido para o mundo todo abre caminho para novas possibilidades. Poderiam formar uma rede de exibição em lugares menores, já com espaço pro pessoal curtir como se fosse um show normal, talvez em baladas.

Os fãs que vão lotar os cinemas brasileiros pagaram 60 reais de ingresso pela experiência, que inclui um saco de pipocas e uma coca-cola, como se fossem assistir ao último filme do Harry Potter. Muitos comentaram que em vez de ir ao cinema pagando um ingresso desses vale mais a pena comprar o DVD. Faz sentido.

Este tipo de ação não precisa se prender ao “formato” tradicional do cinema. É fato que as salas modernas contam com sistema de som e imagem em alta definição, mas esse novo modelo poderia ser melhor explorado se o público pudesse ficar mais à vontade, como se estivesse mesmo no show da banda.

O fato é que todos nós somos as cobaias da era digital, somos a primeira geração a lidar com a internet, essa força estranha e fascinante que cada vez mais vira o mundo do avesso. Músicos, consumidores, imprensa e gravadoras estão tateando meio perdidos, tentando encontrar um caminho. Quem tiver ousadia e souber criar o novo aproveitando o que já dá certo pode ser dar muito bem.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Tristeza

A tristeza não é um abismo negro de tortura. A tristeza é amiga. Ela nos faz olhar para dentro de nós mesmos. Tem a mecânica parecida com os fenômenos da natureza que nos fazem contemplar a ponta do nariz, como dizia Machado.

A tristeza dói, mas também pode curar. É preciso tomar a tristeza como um singelo presente, um remédio amargo, mas que se ministrado com paciência e disciplina revigora o corpo, mapeia a alma.

A tristeza deve ser respeitada. É preciso muito pudor para tentar se meter com a tristeza alheia. O que parece masoquismo pode funcionar como um retiro para a meditação. Um pit-stop espiritual. Necessário. Como o Buscopan amargo da minha infância.

O doce ketchup do Red Hot Chili Peppers


E mais um disco do Red Hot Chili Peppers chega aos meus ouvidos, confesso que sem as mesmas expectativas de antes. Meu defeito é procurar nos trabalhos novos da banda os sons selvagens dos anos 80. Mas não precisa ir tão longe, os discos recentes já fazem boa distância do clássico “Californication” , que pavimentou a curva musical que o Red Hot iniciara em “Blood Sugar Sex Magik”.

O primeiro single de “I’m With You” é aquela música da chuva, que nunca consigo lembrar o nome. Deixe eu dar uma googlada. Ah, aqui ó: “The Adventures Of Rain Dance Maggie”. Curiosamente, ela marca bem a principal novidade do disco, que é a entrada do guitarrista Josh Klinghoffer. Citado pela crítica como “sutil” e “discreto”, neste single essas posições ficam bem claras. A participação da guitarra é mínima. O solo é um anti-solo, pura barulheira de distorção. Fica difícil compará-lo com o estilo de John Frusciante, o condutor das guitarras funk da banda, herdeiro de Hillel Slovak na arte de juntar rock, punk, pitadas heavy, uma bênção de Hendrix e o suingue negro dos mestres do funk americano.

Josh tem seu brilho – assim como toda a banda - na intrigante “Monarchy of Roses” que abre o disco. Os acordes dos primeiros versos remetem ao Black Sabbath, tudo para desaguar em seguida num som disco music dos anos 70. O baixo de Flea se mistura à bateria de Chad na levada dance e já posso ver Travolta na pista, levando uma escultura de brilhantina na cabeça. E conseguem fazer essa transição com naturalidade. De certo modo, esta faixa me remeteu ao disco maldito “Onde Hot Minute”, gravado após a primeira saída de Frusciante da banda. Aliás seria muito bem-vindo se o RHCP resgatasse algumas canções deste disco antigo nos shows atuais, já que John não faz mais parte da banda.

Esse clima dançante segue na faixa seguinte “Factory of Faith”, onde Anthony retoma suas frases vocais influenciadas pelo rap.

“Ethiopia” é uma belo exemplo da importância do baixo de Flea no som do Chili Peppers. A música começa com a linha de baixo e todos os instrumentos se adaptam a ele. Como já foi dito por aí, essa fórmula do Red Hot de ter o baixo como protagonista tinha tudo para dar errado não fosse Flea ser o talento monstruoso que é.

Mas o Red Hot não é mais aquela banda que eu procuro, não tem mais o funk selvagem de discos como “Uplift Mofo Party Plan” ou “Mother’s Milk”. Não digo que seja porque a idade chegou. É mais em razão do novo estilo de vida. Artistas de mais quilometragem quando saem do rehab fazem uma reavaliação de seu som. No caso do Red Hot o material atual ainda soa interessante, ainda é fiel às influências, mas está profundamente comprometido com o pop rock. Os refrões fáceis, as melodias gostosas, as canções que afagam os ouvidos, essa é a praia do Red Hot Chili Peppers do novo milênio. Não que não seja interessante, também há espaço para experimentalismo e misturas malucas, mas sinto que algo se perdeu para um fã saudosista como eu.

Há canções em que carregam um pouco mais a mão no novo disco, como em “Look Around” e em “Goodbye Hooray”, mas nem de longe me lembram o funk doido e paulada de músicas como “No Chump Love Sucker”, “Good Time Boys” ou o groove de “If You Have to Ask”.

O Chili Peppers continua ótimo, mas com um outro espírito, menos peppers e mais ketchup. A conferir essa mistura ao vivo no Brasil.

domingo, 28 de agosto de 2011

1991, um ano rock: Red Hot Chili Peppers





Este álbum, “Blood Sugar Sex Magik”, lançou o Red Hot Chili Peppers ao sucesso mundial, e mais que isso, marcou uma certa “curva” em sua produção musical. Os primeiros discos da banda juntavam o funk sujo da guitarra com os vocais rap do vocalista Anthony Kiedis, tudo conduzido pelo monstruoso baixo de Flea, um dos principais baixistas de toda a história do rock. Porém, nos primeiros anos, a banda não foi muito além do circuito underground americano, com algumas excursões pela Europa.

Abusando das drogas, sofreram um doloroso baque com a morte do guitarrista original, Hillel Slovak, em 1988, por overdose. John Frusciante assumiu seu lugar e em 1989 lançaram o disco “Mother’s Milk”. Mas foi com “Blood Sugar Sex Magik” que o Red Hot conciliou a fúria de seu funk com um acabamento mais pop.

A balada “Under the Bridge” - sobre a conexão de Anthony Kiedis com Los Angeles e impregnada de um certo fundo melancólico mencionando seu vício em drogas – mostra muita sensibilidade de John Frusciante. A acústica “Breaking the Girl” mostra uma faceta do Chili Peppers nunca apresentada nos discos anteriores. Tem percussão experimental e mellotron, conta ainda com o belo backing vocal de John Frusciante.

O maior clássico do Chili Peppers, “Give It Way” também é deste disco. A canção tem todos os elementos do som do Red Hot e conta com um clipe surreal, de fotografia prateada, gravado no meio do deserto americano. A influência funk neste disco continua em canções como “Suck My Kiss”, “Mellowship Slinky in B Major”, “If You Have to Ask”, “Sir Psycho Sexy” e muitas outras. A riqueza do álbum é impressionante. Este disco marca também a parceria da banda com o produtor Rick Rubin, que trabalha na produção de seus discos até hoje.

“Blood Sugar” chega a ser apontado como percussor do new metal, por aliar o vocal rapeado ao peso. Não acho que chega a tanto, acredito que as bandas de new metal têm outras referências.

O guitarrista John Frusciante deixou a banda durante a turnê deste disco, gerando certa instabilidade. O RHCP passou por um período conturbado no meio dos anos 90 com o irregular disco “One Hot Minute”. Voltaram ao sucesso mundial com o “Californication”, de 1999. Mas a esta altura, a banda tinha se reinventado totalmente em relação ao que foi em seu início, nos anos 80. A nova direção sonora começou a ser trilhada em 1991, com “Blood Sex Magik”.

E aí, curtiu? Aqui termina a pequena série sobre discos clássicos do rock lançados há 20 anos, em 1991. Confira também os textos sobre os discos de Nirvana, Metallica e Ozzy Osbourne lançados naquele ano. Até mais!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Dilma empresta a vassoura de Jânio


Há 50 anos, Jânio Quadros renunciava ao cargo de presidente da República. Eleito com o jingle do "varre, varre vassourinha", ele prometia moralizar a República, limpando-a dos corruptos. No fim das contas, Jânio acabou varrendo si mesmo da Presidência. Por ironia, meio século depois do episódio que desencadeou uma instabilidade política que acabaria por resultar na ditadura militar, o Brasil se depara com outro tipo de "faxina" protagonizada pelo chefe da nação.

Com quatro ministros derrubados desde o início do ano e uma série de demissões na cúpula do Ministério dos Transportes, a presidente Dilma Roussef desponta para parte da opinião pública como um sopro da tão esperada reforma anti-corrupção no governo. Cabe aqui alguma reflexão. À excessão de Nelson Jobim, que caiu sozinho de tantas críticas que fez ao governo, os demais ministros só foram limados depois de denúncias que partiram da imprensa, ou de órgãos de investigação do governo. A tal faxina é mais um ato reflexivo do que de iniciativa. As irregularidades vêm a público, a situação fica insustentável, corta-se.

Contudo, há aqui alguma diferença em relação ao governo anterior. Lula minimizava, esbravejava contra a imprensa e usava seu colchão de popularidade para amortecer as repercussões negativas. A necessidade de garantir a "governabilidade" era o combustível da tolerância à corrupção. Aos trancos, a estratégia deu certo. Lula sobreviveu até ao mensalão.

Voltando a Jânio Quadros, o ex-presidente, ainda então candidato, puxava para si a responsabildiade de limpar a Esplanada dos maus políticos e administradores. No momento, é Dilma que é taxada de "faxineira" pela opinião pública. Para ela, tanto melhor.

Para nós, fica o sentimento de que pode ser a deixa para uma mobilização maior da sociedade. A Primavera Árabe e os protestos na Índia, que pedem exatamente mais moralidade no governo deveriam nos inspirar para ir às ruas e exigir com mais vontade um basta à corrupção. Afinal, vivemos uma certa "febre" de marchas temáticas nas grandes cidades. Uma grande e bem organizada Marcha Contra a Corrupção seria pertinente agora.

sábado, 20 de agosto de 2011

1991, um ano rock: Nirvana

As luzes apagadas.

"With the lights out / it’s less dangerous" (com as luzes apagadas / é menos perigoso). O primeiro verso do refrão de "Smells Like Teen Spirit" soa como uma cruel ironia, 20 anos depois do lançamento do disco que é quase um consenso quando se pensa no último "clássico obrigatório" do rock.

"Nevermind" puxou todas as luzes para o Nirvana e espalhou as vísceras do rock alternativo na cara do grande público. Subverteu o sistema. Revolucionou os conceitos de underground e mainstream. E o calor dos holofotes foi sim perigoso. Mais do que isso, foi fatal para Kurt Cobain.

Este disco do Nirvana fez tanto sucesso que foi decisivo para alavancar as carreiras de outras bandas como Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden, além de ajudar a enterrar a farofada hard rock dos anos 80. Mais que isso, fez com que se prestasse mais atenção no que acontecia nas garagens dos subúrbios. Provou que o sonho é possivel.

Mas o que faz este disco tão especial? Uma série de fatores.

O álbum anterior do Nirvana já trazia a essência do que temos aqui, mas "Bleach" era mais tripas, mais bruto, menos lapidado. Um punk-sujeira. Em Nevermind o Nirvana teve a manha de embalar sua fúria num embrulho mais apresentável.

Dominaram a fómula verso calmo/refrão nervoso/verso calmo. E ainda teve a estreia de Dave Grohl na bateria, talvez o maior legado que o Nirvana deixou ao rock. "Here we are now / entertain us" (estamos aqui agora / entretenha-nos). Em "Smells Like Teen Spirit", Kurt cantou a apatia de sua geração e a busca por alívio, numa espiral de alienação e conforto passageiro que não leva a nada muito construtivo. Nada muito diferente do que vivemos hoje na geração do "xinga muito no Twitter". Talvez por isso este disco do Nirvana ainda permaneça importante e, repito, figure como o último clássico obrigatório do rock. A potência punk do refrão e o impressionante voz rasgada de Kurt não deixam ninguém indiferente a esta música. É fantástico como Kurt Cobain tinha voz limpa e bonita para as partes lentas mas gritava como se tivesse um pedal de distorção na garganta quando era preciso.

Não é necessário repetir aqui sobre a exibição exaustiva do clipe desta música na MTV, da moda das camisas de flanela e o visual sujo e largado que dominou as ruas. Vamos nos deter à música.

Em “Come As You Are”, por exemplo o efeito do pedal chorus na guitarra dá uma certo equilíbro oitentista à canção, enquanto a bateria esperta de Grohl sabe a hora certa de atacar. A bela voz de Kurt finaliza o serviço. É praticamente um pop-rock que não ofenderia sua tia num churrasco com a família. "And I swear that I do'nt have a gun" ( e eu juro que não tenho uma arma). Em compensação, este se tornaria um dos versos mais perturbadores de Kurt, após seu suicídio pouco mais de dois anos após o lançamento deste álbum.

A letra de "Lithium" é apontada como uma amostra da personalidade de Kurt. "I'm so ugly / that's ok cause so are you / we've broken our mirrors" (eu sou tão feio / tudo bem, pois você também é / nós quebramos nossos espelhos). Isso diz muito sobre a atitude marginal e desencantada do grunge da época. O instrumental também é um típico Nirvana, com seu formato circular, uma batida que lembra músicas de acampamento, de excursão, um certo fundo de inocência profundamente pervertido pela amargura desesperada de Kurt.

O que me intriga nessa música é que ela tem o refrão mais dançante no Nirvana e nos vídeos ao vivo toda a plateia pula e dança loucamente, numa celebração rock'n roll da vida. A banda toca com gosto e todos sorriem e curtem. O único fora da festa é Kurt. Totalmente alienado do que acontece ao redor, sua performance é de dor e não de celebração. Essa tensão nos shows do Nirvana é muito clara. Talvez a banda tenha sido tão amada que não se percebia que a poesia era escrita com sangue.

O disco ainda traz canções acústicas como a perturbadora "Polly" (sobre a tragédia de estupro e tortura de uma garota contada sob o ponto de vista de seu algoz) e "Something in The Way" (sobre o mito de que Kurt morou debaixo de uma ponte em Aberdeen, sua cidade). Mas o que consagrou o disco foi a fórmula grunge que combinou punk rock, música suave, música nervosa, gritos, sussurros, batida pop e muita verdade.

A série sobre 1991 segue com os discos lançados por Ozzy Osbourne e Red Hot Chili Peppers. Valeu!

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

1991, um ano rock: Metallica



Poderia começar dizendo que como um bom vinho, que melhora de qualidade com o passar dos anos, alguns discos adquirem certa aura especial ao sabor da correnteza do tempo e que a distância entre o presente o passado só nos faz aumentar a lucidez do reconhecimento da grandeza das obras primas do passado.

Mas não. Prefiro pizza.

Como uma bela pizza amanhecida, certos discos de ontem soam ainda hoje sensacionais. É uma ideia do tipo "se hoje já é bom, imagina quando tava quentinho".

E em 2011 completa-se 20 anos de lançamentos de alguns álbuns clássicos do rock. Era uma época em que já se questionava se o velho rock'n roll não estaria se esgotando. Não amigo, hoje podemos citar vários discos importantes lançados em 1991. Escolho quatro. Vamos ao primeiro, o disco "Metallica" da banda de thrash metal de mesmo nome, mas popularmente conhecido como "álbum preto".

O lançamento deste disco catapultou o Metallica a um novo patamar. Vinda de uma das vertentes mais rápidas e pesadas do metal, a banda conseguiu domar seu som num formato em que as canções não perderam o vigor e a ferocidade dos discos anteriores, mas adquiriram também um aspecto mais comercial.

É um caso raro de disco de metal que tem capacidade de agradar tanto a fãs do "gueto" quanto a ouvidos pouco acostumados com este gênero. A banda nunca mais conseguiu criar este mesmo efeito em um disco inteiro.

Duas baladas potentes e épicas fizeram o Metallica entrar nas FMs. São elas "The Unforgiven" e "Nothing Else Matters", canções de instrumental refinado, como se fossem o vitorioso ponto de chegada de um caminho experimentado em canções de discos anteriores, como "Welcome Home (Sanitarium)" e "Fade to Black". Por causa das baladas deste álbum preto é possível que seu pai e sua avó tenham ouvido falar do Metallica. Canções singelas que se transformam em pedradas são uma das qualidades desta banda.

Destaco outra duas canções deste disco que também foram sucesso nas rádios rock da época. São elas "Sad But True" e "Enter Sandman". Aqui o bicho pega! É peso do início ao fim, belos exemplos do poder do heavy metal. A pirotecnia de "Enter Sandman" é tradicional nos shows do Metallica até hoje. A letra falando de pesadelos e dragões de fogo que vão te pegar fica ainda mais divertida com o vocal alucinado e paranoico de James Hetfield. Clássico. É uma música calculada para incendiar estádios e grandes arenas.

A diferença para o que banda fazia até então é que trocaram as palhetadas thrash em alta velocidade por uma base mais cadenciada, mas cheia de feeling. Acredito na competência de uma banda de metal quando conseguem fazer uma música lenta porém pesada como uma cachalote. Irresistível. O disco tem mais exemplos desta fórmula, como "Don't Tread On Me" e "The God That Failed".

Este discos tem ainda vários outros aspectos como a introspecção das letras de Hetfield, o conturbado processo de gravação e a polêmica que resiste até hoje. O álbum preto é meio que um divisor entre os fãs da fase antiga do Metallica e os que gostam do material lançado daí em diante.

Por fim, ao lado do álbum branco dos Beatles, este álbum preto do Metallica forma a dupla monocromática que está na coleção de quem gosta de rock. Uma metade é pureza e contemplação. O lado negro é peso e paulada.

A série sobre 1991 segue com discos clássicos de Nirvana, Ozzy Osbourne e Red Hot Chili Peppers lançados naquele ano. Até lá!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Popnejo

Assombrado, o Brasil fez a festa com a "polêmica" declaração de Sandy à revista Playboy. "É possível ter prazer anal". Estas cinco palavrinhas causaram o maior furdunço na imprensa e nas redes sociais. Distorcida ou não, esta frasezinha ajuda a cimentar a transformação de imagem que ela tenta construir há certo tempo.
Mas não quero falar de celebritices. Uso Sandy para representar um pouco a metamorfose que transformou a música sertaneja de manifestação quase folclórica ao produto mais bem acabado do pop brasileiro.

Sandy & Júnior surgiram nos anos 90, ainda crianças, com seus primeiros discos "caipiras-mirins". Filhos de Xororó, não foi surpresa que alcançassem o sucesso popular. A dupla de seu pai com seu tio (os imortais Chitãozinho & Xororó) foi responsável por ajudar a tirar o sertanejo da roça. Numa época em que esse tipo de música tratava essencialmente da vida no campo eles foram os primeiros a dar um lustro mais próximo da música pop, usando guitarras e banjos. Criaram uma nova estética para o sertanejo que décadas depois veio resultar no sucesso de um cara como Luan Santana, que parece mais um rockstar do que um sertanejo (será que rótulos tão fechados ainda são válidos?).

Todos acompanhamos,de perto ou de longe, a carreira de Sandy & Júnior, que se descolaram completamente do sertanejo. Entre a segunda metade dos 90 e a primeira dos 00 foram soberanos com o público adolescente brasileiro. Totalmente rompidos com o a música sertaneja.

Paralelamente, as duplas sertanejas desenvolviam as sugestões musicais e estéticas de Chitãozinho & Xororó. A febre desse gênero musical nos anos 90 com Zezé Di Camargo & Luciano catapultou o formato com letras românticas, solos afiados de guitarra e superproduções em parceria com a TV (quem não se lembra do programa Amigos, da Globo?). Nesta fase, o sertanejo já se concretizava em sua nova estética. E dá-lhe a melação romântica goela abaixo com Leandro & Leonardo, Chrystian e Ralf, Gian & Giovani e tantas outras. Vale destacar que a esta altura, o visual de muitas duplas já não tinha mais nada a ver com o estilo de vida do campo.

Na década de 2000 o sertanejo universitário consquista o jovem, toca em baladas e duplas como Victor & Leo, João Bosco & Vinícius, Fernando & Sorocaba e os cantores Luan Santana e Michel Teló dominam as paradas de sucesso. O que vemos são megaproduções nos shows, efeitos especiais no DVDs e uso de recursos de variados estilos musicais. Fica difícil ouvir e dizer de cara "é sertanejo".

Tudo por causa do fio de cabelo num paletó. Tem um fiozinho daquele mullet no sertanejo-pop de hoje.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O Rei desce

Nessa semana o Santos anunciou uma das jogadas de marketing mais bizarras da história do futebol: a intenção de inscrever Pelé como atleta para disputar o Mundial de clubes, no fim do ano. A ideia é que inclusive ele entre em campo e jogue por alguns minutos. Toda a ação tem o objetivo de chamar a atenção para o time e despertar a simpatia da torcida japonesa. Feliz da vida, o presidente do clube sonha: "já pensou o Pelé entrando no fim do jogo para bater um pênalti?"

Ok, vamos descer das nuvens.


Um dos maiores tabus do mundo esportivo é a supremacia de Pelé acima de todos os jogadores do presente, passado e futuro. Pelé é o Rei. Ponto.

A euforia do Santos na "Era Neymar" trouxe uma discussão sobre o potencial do garoto de se transformar no "novo Pelé". A revista Veja colocou o menino na capa, ás vésperas da estreia da seleção na copa América, com o rótulo "Reymar". (A capa inclusive é de uma personalidade e qualidade gráfica impecáveis, uma das melhores do ano). Pelé é a meta a ser alcançada e batida, tiraram o Rei de seu pedestal. Querem atirá-lo aos leões, misturá-lo com a plebe aos 70 anos. Pra quê?!

Não vi Pelé jogar, mas herdei a percepção de que ele é insuperável. Pelé é um marginal. Existem todos os outros jogadores e existe Ele. O futebol precisa de seus mitos.

E se Pelé entra para bater seu pênalti e erra? Precisava passar por isso? Não, não pode. Pelé em campo outra vez me atiça a indignação assim como a vontade de exumarem o corpo de Tima Maia. Não pode!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Kings of Leon e o pacote da vida de rockstar

Caleb Followill no começo da carreira do Kings of Leon


O mesmo sistema que ajuda a adoecer e enlouquecer artistas passa a outra metade do tempo especulando os motivos que fizeram o artista afundar em sua espiral de fracassos. Assim funciona nosso circo. Análises e sentenças sobre a vida Amy Winehouse estão dominando a mídia (vale até o Fantástico resgatar um documentário com o pai de Amy feito pela TV inglesa anos atrás). A morte de Michael Jackson trouxe um tsunami de informações e boatos sobre seus dramas particulares. Esses são apenas os exemplos mais recentes do pop.

Nesta semana foi a vez de Caleb Followill, vocalista e guitarrista da banda norte-americana Kings of Leon, receber parte deste tipo de holofote. Ele abandonou um show pela metade no Texas alegando que tinha problemas vocais. Ao microfone, disse que era só questão de vomitar, tomar mais uma cerveja e voltar para terminar o serviço. Mas ele não voltou mais e o show acabou. Mais: todo o restante da turnê da americana foi cancelado. O KOL só volta aos palcos no final de setembro, no Canádá.

Jared Folowill, baixista e irmão de Caleb, soltou no Twitter que a banda tem problemas "maiores do que não beber Gatorade o bastante". Caleb já é tido como alcoolatra pela imprensa internacional, embora alegue apenas problemas na voz para cancelar a turnê. Já tem gente falando que o Kings of Leon está dando uma de irmãos Gallagher, pra não deixar de citar uma das famílias mais problemáticas rock (a banda Oasis, dos irmãos Noel e Liam Gallagher).

A família do Kings of Leon é mais peculiar. Na banda, o vocalista, o baixista e o baterista são irmãos. O outro guitarrista é primo deles. A banda foi formada no Tenessee (sul dos EUA) no seio de uma família protestante fervorosa. O pai dos irmãos era pastor e eles percorriam o sul do país em pregações. Eram a bandinha das igrejas. Participaram de corais, tentaram ser cantores country. Dizem que eram proibidos de ver televisão e de ouvir musica que não fosse religiosa.

Os primeiros discos do Kings of Leon traziam um rock de garagem nervoso e setentista, com uma pegada country e uma identificação forte com o som dançante que marcou a geração 2000 "pós-Strokes". Com o tempo, o quarteto investiu num som mais pop climático e de arena, com uma certa inspiração de U2 e Coldplay. "Use Somebody", talvez o principal hit da banda, vem dessa época de transformação, quando trocaram até o visual por uma imagem mais boy band. Canções sensacionais do primeiro disco como "Happy Alone", "Holy Roller Novocaine" e "Wasted Time" ficaram no passado, marcando a fase inicial da banda.

Apontados como candidatos da "nova geração" a ocupar o posto de banda de grandes estádios, assim como o Queen nos anos 80 e o U2 atualmente (acredito que há um certo exgero nisso), parece que os excessos e as fantasias da vida de rockstar começam a cobrar seu preço. É torcer para que eles superem essa turbulência e a banda não se dissolva, como disseram alguns boatos rapidamente desmentidos por seus integrantes.