segunda-feira, 13 de junho de 2011

Sobre matrículas e filas

Editorial da revista Saber nº4 (Faculdade Prudente de Moraes)

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Uma das grandes bandeiras da propaganda governamental no final da gestão de Fernando Henrique Cardoso na presidência da República foi a inclusão de crianças na escola. Dizia-se que o Brasil havia praticamente erradicado a evasão escolar, que não havia crianças longe dos estudos e a eliminação do analfabetismo no país estava garantida.

No governo Lula também ganharam destaque as políticas de inclusão no ensino, sobretudo no ensino superior. O sistema de cotas para negros – polêmicas a parte – e o ProUni são ferramentas que trazem cada vez mais alunos às universidade. Isso, associado ao fenômeno da tão falada e emergente classe C corrobora a tese do petista de que o país nunca teve tanta gente no ensino superior.

De fato, cresce a olhos vistos o número de faculdades e de cursos de graduação a preços cada vez mais acessíveis. A grande questão é discernir até que ponto é benéfica esta inclusão de massa e se isso realmente reflete um progresso.

Se por um lado, generalizando, nossas crianças entram cedo na escola e conseguem seu diploma de ensino superior, por outro o setor privado reclama sempre do mesmo problema: falta mão de obra qualificada. Os índices internacionais de medição da qualidade da educação nos tiram da euforia desenvolvimentista e nos forçam a encarar uma realidade inconciliável com o papel de protagonista que o Brasil quer tomar: ainda somos uma nação de Terceiro Mundo no quesito educação.

Base para o desenvolvimento do país, o Brasil parece ter tomado caminhos desarmônicos para conseguir seu salto de qualidade nesta área. Não basta abrir as portas de escolas e faculdades se é baixa a qualidade da aula, se o professor não está preparado e não é valorizado. É verdade que temos universidades públicas de ponta, mas trata-se de uma elite abismalmente distante do grosso das instituições de ensino no país.

Não é novidade que o problema começa cedo. Os professores de ensino básico são mal preparados e mal pagos. Muitas vezes não dominam o conteúdo da matéria pela qual são responsáveis de ensinar. O aluno também se desmotiva, diante de um conteúdo programático caduco, um método pedagógico distante da realidade digital e interativa a que está acostumado e falta de estrutura física nas escolas. O resultado é indisciplina, falta de interesse e consequente mal resultado nas notas.

Enquanto for dada a ênfase no aluno, de nada adiantará. É preciso olhar para o outro lado do tabuleiro e investir na qualidade do professor – e na estrutura das escolas, no conteúdo do ensino – para que valha a pena que mais gente frequente os bancos escolares, em todos os níveis.

Caso contrário, a quantidade de alunos que cada vez mais entram nas escolas e faculdades continuará a ser proporcionalmente igual ao tamanho da fila de desempregados.