sábado, 26 de fevereiro de 2011

Aviãozinho voou

Meu pai chorou. Minha mãe consolou ele, no sofá da sala. Aos 9 anos de idade, eu não tinha visto meu pai chorar muita vezes e certamente nunca o vi chorando com tanta vontade. Eu também estava triste. Mais cedo, naquele dia, fui com meu pai numa padaria do bairro, buscar uma pizza. Ele estava com muita pressa e, como todo mundo no lugar, não tirava os olhos da televisão. Tomei um guaraná enquanto esperávamos a pizza e escolhi um canudo verde e outro amarelo. Fiz isso porque era julho de 1998, dia da final da Copa da França.

A Seleção tentava ganhar um tal de penta e eu estava prestando atenção num jogo de futebol pela primeira vez. Foi a partir dessa Copa que passei a acompanhar futebol. O Brasil tinha Cafu, Roberto Carlos, Rivaldo, Denilson, Taffarel (e suas chuteiras verdes, da Topper). Um timaço. Mas tinha mais que isso, tinha Ronaldinho, o melhor jogador do mundo.

O melhor. O astro. O super-herói. O moleque carequinha que marcou uma geração. Que corria driblando, fazia gol e comemorava de braços abertos, fazendo aviãozinho. É esse jogador, o Ronaldinho do aviãozinho, que marcou minha memória como o primeiro grande jogador brasileiro a ser deus na Europa. A ser deus no mundo. Não conseguia imaginar que ele tivesse jogado por um time brasileiro. Parecia inalcançável.

Mas mesmo assim, não teve jeito. O Brasil perdeu, tomou um cacete da França. Ronaldinho teve um piripaque, ou algo tipo, antes do jogo e não foi Fenômeno. E meu pai chorou.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Meu 77 ainda vai vir

Sou um corinthiano nascido em 1989. Não vi a democracia de Sócrates e Casagrande. Estava nas fraldas quanto o time de Neto conquistou o primeiro campeonato brasileiro. Só fui testemunha da corinthianice a partir do glorioso time de 98-2000. Isso quer dizer que nem cogitava vir para o mundo quando Basílio deu a bicuda derradeira num dramático bate-rebate em 77.

Eu não tava lá quando o Corinthians conquistou seu maior título. Muito maior do que um Campeonato Paulista. Foi a comunhão de uma nação inteira. Um batismo no rio Jordão. Um... um... ah, só estando lá pra saber. Eu não tava.

Mas o meu 77 vai chegar. Com a força de um tsunami. Um meteoro devastando a vida na Terra. Sim, meus senhores, sádicos rindo abraçados com suas taças moreno-latinas, o Corinthians ainda vai conquistar sua Libertadores.

Vocês riem porque não entendem a mística de ser corinthiano. Não sabem que há 100 anos esse time vive em ciclos de glória efêmera e penitência longa. Esses flagelos só fazem crescer o amor. A frustração é o alimento da devoção. Não é a toa que o clube é associado às camadas marginalizadas e menos escolarizadas da sociedade. Só um limitado mental pode ter prazer numa relação assim.

Eu sinto no ar, ano a ano, a cada Libertadores a maré puxando toda a água da areia em seu serviço de canalizar cada gota de energia para o tsunami de êxtase que vem vindo. Não dá pra domar a força do mar, diz o teorema de Gessinger. O homem não pode lidar com o poder da natureza, ainda mais quando há um oceano de homens represado há décadas.

Quando o título da Libertadores vier e o Corinthians assinar seu atestado de gente, conversaremos. Mas só depois de sentir a onda devastadora em todas direções. Aí sim, depois de ver algo grande, algo realmente mágico.... Ah, quem será o Basilio?

Meu 77 ainda vai vir, eu estarei lá para ver e conto pra você.